Small Smile Blue

Not selfie as Mona Lisa. Photography by Conceição Gonçalves.
Um esboço de sorriso azul! Estou quase recuperado. Quase. Seis meses após o internamento nos cuidados intensivos, debato-me com hérnias, contraturas e dores por todo o corpo. As pernas e o equilíbrio ainda não se dão ao luxo de uma dança, nem sequer um blues arrastado. Nos próximos dias, entre ecografia, análises e consultas, repartidas por cinco especialidades, acumulo sete atos médicos. Continuo a fazer fisioterapia três dias por semana. Quase não saio de casa. Não é um queixume. Sinto-me bem, muito bem! Após vários anos sempre a piorar, melhorar todos os dias representa um alívio abençoado, um incomensurável prazer. Uma regeneração! Sinto-me confiante. Trata-se apenas de um alerta, um testemunho, às pessoas medicadas com lítio: prestem a maior atenção aos respetivos efeitos, mesmo quando os resultados das análises se mantêm no intervalo dos valores terapêuticos, como foi sempre o meu caso. Contanto invulgar, a intoxicação por lítio não é um acidente meigo. O lítio não consta dos metais queimados pelos nascidos das brumas (Brandon Sanderson. O Império Final. 2006).
O luxo do subterrâneo

Uma realidade puxa outra, que entra sem pedir licença. A associação espontânea é um dos processos mentais que menos controlamos. Ana Popovic lembrou-me Janis Joplin. Por quê? À partida, não sei. Talvez o blues feminino. Talvez a raiva de cantar. Não sei! Lembrou, e isso é que interessa. Não se trata de uma comparação. É uma centelha na bonança. Um relâmpago de sentido. Tudo me lembra alguma coisa. O luxo do subterrâneo.
Ana Popovic

De vez em quando, faz bem uma pessoa desviar-se. Para as margens do mainstream, dos estereótipos e do gosto sedentário. É reparador extraviar-se longe do centro. Ana Popovic nasceu em Belgrado, na Sérvia, fez carreira na Holanda e acabou por fixar residência nos Estados-Unidos. É vocalista e guitarrista, com muita garra. Segue a interpretação ao vivo de Blues for M.
Estrela azul

Blue is the colour of my feelings. Gosto de ouvir blues quando deslizo para o lado autómato da minha identidade. Hoje, colhi os Yardbirds (Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page), do álbum Blue Eyed Blues (1973). 23 hours too long tem participação de Sonny Boy Williamson. Segue uma interpretação ao vivo.