Outros tempos. Top of the pops com rugas 1

Estou a iniciar uma série de entrevistas a pessoas de idade centradas em determinados períodos da sua vida adulta. “Não te vai ser fácil, comenta uma amiga, a memória está-lhes sempre a fugir para a infância e a juventude”. Revisitei, “como quem se despede”, as entrevistas que promovi com pessoas maiores. Na verdade, o prazer da conversa tende a desviar-se para os tempos remotos estimados mais felizes. Agora, com quase cinquenta e treze, creio que me está a acontecer o mesmo. A memória teima em saltar as últimas décadas e a demorar-se na meninice e na adolescência. Até ao aniversário, vou regalar-me com melodias “daqueles tempos”, uma espécie de “tops of the pops” com rugas.
Leve, levemente

O tempo passa, mas não para
Nos anos sessenta, as baladas italianas apoderavam-se da rádio. Dar o que as pessoas gostam é um reforço. Dar-lhes o que desconhecem, uma promessa, habitualmente perdida. O siciliano Peppino Gagliardi alcançou vários sucessos. Por exemplo, Che vuole questa musica stasera … (1967) e Sempre… Sempre (1971).
Blind Faith

Ando com a inspiração submersa. Quando se deixa adormecer a razão é muito difícil acordá-la. E quando o corpo não tem juízo, a cabeça é que paga. Vou cingir-me a cinco dedos de música.
Ver o Eric Clapton e o Steve Winwood, membros dos Blind Faifh, “superbanda” dos anos sessenta (1968-1969), a interpretar Presence of the Lord tange o revivalismo. Acrescento três músicas dos Blind Faith.
Filhos da revolução

Calaram-se os altifalantes da festa de S. Brás, com duas bombas. Arrombaram os ouvidos dos cães. Agora, dá para ouvir música. Coisas do Parque Jurássico. Conhecem os T. Rex? Uma banda dos anos sessenta que acabou nos setenta. Segundo consta, inscrevem-se, como os Roxy Music, no Glam rock. Algumas músicas estiveram no topo, por exemplo, The children of the revolution e Get it on. Gosto de Cosmic dancer. Seleccionei estas três músicas depois de ouvir uma colectânea: Marc Bolan & T. Rex: Essencial Greatist Hits (2007).
Agarrar o vento

Tenho duas dúzias de reis magos em casa. Dá para poucas escapadelas. Sou perito: deixo-me descair na cadeira e passo por baixo do tapete. Ninguém dá pela minha falta. A invisibilidade é crucial: o protagonismo é fatal às escapadelas. Sem tempo, resolvo escolher um álbum à sorte. Sai o Donovan’s Greatist Hits (1969). Donovan foi um compositor e cantor de sucesso, sobretudo, nos anos sessenta. Pertence à geração Bob Dylan, Velvet Underground e The Doors. Donovan foi amigo de um meu amigo, em Paris.
Um dos reis magos veio de Angola. Fomos fumar, à espera da estrela. Tive uma sensação de estranheza: o Marlboro dele não tinha cenas eventualmente chocantes. Em África, os profetas da desgraça devem ter outras preocupações. Segunda estranheza: o preço de um Marlboro em Angola é 1:20 euros. Em Portugal, ascende a 5 euros! Inspeccionei: a única diferença reside nas imagens eventualmente chocantes. Devem ser muito caras!
Etta James

Há vozes que vêm de longe e passam sem bater à porta. Não se ouvem nem se vêem nos circos actuais da cultura e do entretenimento. No entanto, quando, por acaso, as escutamos, rasga-se uma fenda no glaciar da memória. Etta James, quem se lembra de Etta James?
A ternura dos sessenta

Creedence Clearwater Revival.
Percorro a aldeia com passos de velho e cabeça de criança. Aqui, lançava para-quedas que subiam. Perto, agarrava-me a uma motorizada para ganhar balanço com os patins. Ali, matava laranjas com um arco improvisado a partir de um guarda-chuva. Além, treinava os tombos para as habilidades de bicicleta… Ternura dos sessenta. Ouvia-se música em qualquer sítio, incluindo uma casa em construção sem portas nem janelas. A ementa musical era reduzida: Beatles, Rolling Stones, The Doors, Moody Blues, Deep Purple e um grupo com nome estranho e sucesso fantástico: os Creedence Clearwater Revival. O passado não descansa, amadurece. Seguem três cristalizações.
Cebolas dançantes

Vai uma música dos Booker T and the MGs? Uma banda de sucesso dos anos sessenta. O nome deve ter ajudado. Consta que foi a primeira banda inter-racial. Publicaram em 1962 a música Green Onions. Cebolas verdes. Seguem dois vídeos: o primeiro, ao vivo; o segundo, um pequeno excerto dançado.
Marianne Faithfull
Pasmo a ver as ondas. Parecem despachos. Vão e vêm e não trazem nem levam nada. O mar é um pouco hipnótico. Uma pessoa imagina sereias e outras criaturas. Uma loura dos anos sessenta, de origem aristocrata, a cantar, com 17 anos, As tears go by, música composta por Mick Jagger e os Rolling Stones. Anos mais tarde, terá uma ligação com Mick Jagger (1966-1970). Estou a falar, naturalmente, de Marianne Faithfull.
Marianne Faithfull. As tears go by. 1964.
Marianne Faithfull. This little bird. Marianne Faithfull. 1965.