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Paródia de uma utopia

Este artigo é do meu rapaz mais novo, o Fernando. Importa assegurar o futuro do blogue.

paprika

“Até as senhoras da corte dançaram ao ritmo das flautas e tambores dos sapos. O remoinho de papel reciclado era uma vista para se ver, como gráficos de computadores! … O frigorífico e a caixa de correio vão liderar o caminho… Caminhem juntos em frente, eu sou o derradeiro governador” (Paprika, 2006).

O tema do filme de animação Paprika, dirigido por Satoshi Kon em 2006, incide sobre o alcance dos sonhos.

A um dado momento, ocorre uma invasão, com a forma de uma parada de vários objectos. O sonho do consumismo. Quem é o sonhador desta parada? Não se sabe. Cada um entra na parada e integra-se como se fosse o seu sonho, cada um é o “derradeiro governador”, um individuo consumido pelo consumismo. O sonho que não é de ninguém mas de todos.

“Pergunto-me aonde se dirigia a parada. Sinto que estava mesmo perto de controlar o mundo.” Os participantes na parada sentem uma promessa, uma recompensa final. Contudo, esta é uma parada sem fim, uma viagem em espiral, crescendo aos círculos.

No final, a parada invade o mundo real. As pessoas vão-se transformando em objectos. O individuo vale o que possui.

Os anúncios e a própria internet não são mais do que formas de sonho. Um sonho que se aloja no subconsciente. Um jogo em que a realidade afeta os sonhos que, por sua vez, afetam a realidade, uma realidade onírica.

Reencontram-se muitas figuras e situações do filme Paprika no filme Inception lançado quatro anos depois, nomeadamente a interpenetração entre sonho e realidade.

Paprika.Satoshi Kon. Japão. 2006. Excerto.

 

Grotesco japonês

Francisco de Goya, Saturno devorando seu filho (1819-1823).

Francisco de Goya, Saturno devorando seu filho (1819-1823).

Existem grotescos japoneses para quase todos os gostos e para quase todas as idades. Nos anúncios, por exemplo. Nos anime, também. Dois séculos depois do Saturno de Francisco de Goya, os titãs da mitologia grega e romana são reconvocados: no anime Attack on Titan, ameaçam devorar uma cidade; no anúncio do Subaru, não conseguem levar a melhor a um automóvel.

Marca: Subaru. Título: Attack on Titan, Live-action Forester. Direção: Shinji Higuchi. Japão, Janeiro 2014.

Attack on Titan, de  Hajime Isayama, Japão, 2013

Anime

Soul.Eater.Evans.fO blogue Tendências do Imaginário tem falhas. Muitas. Por exemplo, a quase ausência dos animes. Começar tarde é um dom, o dom de quem, apesar de tudo, consegue ver por onde não anda. Segue um cocktail anime grotesco, com imagens da série Soul Eater e música de Marilyn Manson. This is Halloween, spice your souls!

Homens e Bestas 4. Charles Le Brun

Giambattista della Porta, Ticiano, Rubens, do quarteto anunciado, só falta Charles Le Brun (1619-1690). Foi primeiro pintor do rei Luís XIV e ocupou-se da decoração da Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes. Nos seus desenhos, os seres humanos resultam abestalhados (ver galeria, figuras 1 a 23). No que agora nos diz respeito,  herdeiros da modernidade, da racionalidade e da ciência positiva, confusões entre homens e animais só se for à luz de Charles Darwin. Não é verdade? Não, não é! No terceiro milénio, continuamos às voltas com os lobisomens (Figuras 24 e 25), com os vampiros (figuras 25 e 26), com os homens aranha (Figura 27), as mulheres gato e outras bestialidades do género (Figura 28). Se considerarmos as máquinas como as bestas do nosso tempo, ainda temos os ciborgues e os biomecanóides. Não esquecendo os mangás nem os animes, onde, à semelhança dos apóstolos evangelistas (águia, São João; touro, São Lucas; leão, São Marcos; e anjo, São Mateus), os heróis estão associados a animais (Naruto, raposa; Son Goku, macaco; figuras 29 e 30).