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Tenros e ternos

Tenros e ternos, eis um anagrama adequado a estes dois anúncios franceses da McDonald’s, o venerável Le Vélo e o recente Les Amis. Uma ternura comercial, sobre rodas e em conserva.

Marca: McDonald’s. Título: Le vélo. Agência: BDDP. França, 1993
Marca: McDonald’s. Título: Les amis. Agência: TBWA Paris. Direção: Martin Werner. França, junho 2017.

Comparsas

Borsodi. Wave. Hungria, 2003

Simplesmente diferentes, incondicionais da cerveja Borsodi, paladinos da frescura alheios à boçalidade alheia.

Aproveito para sugerir a visita a dois artigos: Quando o vigiado se torna vigilante e Albert Camus: sinónimo de liberdade.

Marca: Borsodi. Título: Wave. Agência: Young & Rubicam. Direção: K U. Hungria, 2003
Marca: Borsodi. Título: Picnic. Agência: McCann. Direção: Albert Saguer. Hungria, 2014

Um dia lindo

Hoje está um dia particularmente lindo. Saí para tomar café com uma amiga. Oxalá se quebre o enguiço e estas saídas se multipliquem.

U2 – Beautiful Day. All That You Can’t Leave Behind. 2000.Live From Slane Castle, Ireland / 2001 / Remastered 2021
James Blunt – You’re Beautiful, Back to Bedlam. 2004. Live From Ibiza. 2008.

Quem não se encosta não pesa

No contentor

A ninguém

Após ano e meio de confinamento rigoroso, agora que começo a ter forças para sair de casa (já fui a Moledo, a Melgaço, ao museu D. Diogo de Sousa, a uma reunião do Fórum Cidadania: Pela Erradicação da Pobreza e ao Mercadona), considero chegado o momento oportuno para balanço, para reequacionar a minha própria inscrição no mundo e partilhar testemunho.

Durante este longo período de isolamento e incapacidade, quase não tive visitas! Foi um aperto de solidão. A esmagadora maioria dos familiares, amigos e colegas entendeu por bem não dar esse passo. Contam-se pelos dedos das mãos as exceções, a maior parte, ironicamente, amizades da minha mulher. Ressalvo o Miguel Bandeira que me visitou mais do que uma vez. Significará este facto que passei a ter familiares de não trazer por casa, falsos amigos e colegas de pacotilha?

Não creio que esta “distância social”, esta travessia do deserto, seja imputável a um qualquer menosprezo ou apagão. Não desapareci do mapa mental dos familiares, amigos e colegas. De qualquer modo, a minha obsessiva participação nas redes sociais não o terá permitido. Continuei a bater à porta das pessoas. Este alheamento justifica-se, sobretudo, devido a dois fatores.

Não desapareci do mapa mental das pessoas. Desapareci, isso sim, da sua agenda, um risco das ausências de longa duração. Uma crise mais ou menos aguda, mas breve, por exemplo uma cirurgia, demarca um momento de visita, um clímax ou punctum no tempo. Neste caso, a afluência até pode revelar-se incomodativa. Já o afastamento prolongado, mesmo com sofrimento, tende a arrastar-se num calendário pantanoso. Não existe urgência. Sem agenda, o adiamento propicia-se. Sobra quem confesse, sinceramente, ao telemóvel, andar para me visitar há mais de um ano. Acomoda-se, eventualmente, um pequeno “peso na consciência”, um grilo falante afónico, que, quanto mais se prolonga, paradoxalmente, mais se normaliza e menos estimula e apressa. Envolvido nesta dinâmica, o familiar mais próximo, o amigo mais íntimo e o colega de projetos nunca chega ao porto. Quero, convém-me, apostar com convicção nesta leitura.

Mas admito ser o principal responsável por este isolamento. Não sou um misantropo, mas detesto encostar-me às pessoas. Sou bastante alérgico a dependências. Tanto no trabalho como no lazer. Peco, confesso, por algum orgulho, orgulho que comporta vários custos, incluindo uma dose de desprendimento e solidão. Quem não se encosta, não pesa! Sem peso, diminuem e aligeiram-se as rotinas de interação e os rituais de lealdade.

Sinto-me abençoado: já posso sair de casa, ir ao encontro de familiares, amigos e colegas. No dia 6 de abril, regresso, por exemplo, à Universidade do Minho para a eleição dos órgãos do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade. Vou certamente re(a)ver amigos e colegas. Ressurgir, recomeçar um “novo normal”. Hoje é o dia 1 de abril. Este texto, reflexivo, cru e duro, parece uma mentira, um desvario insano que, não obstante, assino com um revigorado sentimento do mundo, da vida e da humanidade.

José Afonso. Traz outro amigo também. Traz Outro Amigo Também. 1970.
Xutos & Pontapés. Contentores. Circo de Feras. 1987. Ao vivo: Estádio do Restelo 2009″.

Aniversário com corda partida

Corda partida. Hans Holbein. The Ambassadors. 1533. Detalhe. Ver: Objectos que falam.

A uma ex-aluna de doutoramento

Hoje, acordei incompleto.

Gaetano Donizetti Sonata for flute and harp (originally for violin and harp). Larghetto e Allegro. Flauta: Flute: Sonat Sozer. Harpa: Gizem Aksoy. 2017.

Uma das suas músicas:

Julien Doré. Le Lac. &. 2016. Vídeo oficial.
Albertino Gonçalves. Sociologia sem palavras 26. Música e comunicação não verbal. 13 de janeiro de 2018.

Uma página do livro da natureza. A seda da amizade

Vila Praia de Âncora

Ao Amaro

A grande diferença entre o amor e a amizade é que não pode haver amizade sem reciprocidade” (Michel Tournier, Petites proses, 1986).

No outro lado da casa, entoa Silk Road (1980), do japonês Kitaro, álbum que me foi oferecido por um amigo da adolescência. Ainda jovens, fomos passar umas férias, fora de época, a Vila Praia de Âncora. Um dia, apareceu com uma gaivota ao colo com uma asa ou uma perna, não consigo precisar, partida. Médico, socorreu-a. Colocou-lhe uma tala, e instalou-a na varanda. Tornou-se um ritual trazer-lhe pedaços de peixe da lota, mesmo em frente. Não era fácil dar-lhe de comer. A ave ingrata não parava de se defender com o bico. Até que lhe assentou uma valente bicada na testa. Por pouco, não lhe vazava um olho… Assim se escreveu mais uma página do livro da natureza. Regra geral, os meus amigos não se parecem comigo. O Amaro é diferente: tem quase todos os meus defeitos.

A amizade é uma fonte que a música sabe absorver. Insuficiente renal, avio um garrafão de água por dia. Outro tanto beberia de amizade, sem sofreguidão, delicada e suave como a seda. Malogradamente, estou a entrar numa idade em que a chuva da amizade se torna mais rara.

Kitaro. Theme From Silk Road. Silk Road. 1ª ed. 1980. Music video by Kitaro performing Theme From Silk Road.

Matrimónio grotesco

Tim Burtun. A Noiva Cadáver. 2005.

Já se sentia a falta, neste blogue especialmente dedicado ao grotesco, de um bom exemplar do género. Felizmente, o anúncio Golden Memories, da Lay’s, inspirado em Tim Burton, vem contrariar a falha.

Marca: Lay’s. Título: Golden Memories. Agência: Dark Horses. Direção: TRAKTOR. Internacional, fevereiro 2022.

Eclipses

Kia. Robo Dog. 2022.

Existem fases para descarregar e fases para carregar. Em boa hora, carreguemos!

O anúncio Robo Dog, da Kia, constitui mais um exemplo da criatividade e da sensibilidade ímpares do realizador Noam Murro para humanizar máquinas e objetos. Da mais de uma dezena de anúncios de Noam Murro contemplados no Tendências do Imaginário, recoloco dois: Old Friends, para a Macy’s, e Monsters, para a Hummer.

Marca: Kia. Título: Robo Dog. Agência: David&Goliath. Direção: Noam Murro. Estados-Unidos, fevereiro 2022.
Marca: Macy’s. Título: Old Friends. Agência: BBH (New York). Direcção: Noam Murro. Estados-Unidos, novembro 2016.
Marca: Hummer. Título: Monsters. Agência: Modernista. Direção: Noam Murro. Estados-Unidos, fevereiro 2006.

Pilhas de salvação

Álvaro Domingues. Gaio.

Vi um gaio a atacar um melro, junto à cerejeira. A sete metros. A lei da vida. Há quem diga que, com a pandemia, a natureza se aproximou.

Há anúncios felizes. Revived, da Duracell, cativa a atenção durante cerca de cinco minutos. Conta a história, inspirada, sensível e bizarra, de uma criança que nasceu com um cordão nas costas, ficando dependente do único e inseparável amigo que lhe dá corda. Um dia o cordão solta-se. As pilhas Duracell são a salvação. Não há falha humana que a tecnologia não resolva.

Marca: Duracell. Título: Revived. Agência: Filmakademie Baden-Württemberg (obra de estudantes). Direção: Christian Schilling. Alemanha, maio 2021.

Abrir a porta

Fotografia de Álvaro Domingues (Volta a Portugal, 2017)

Não sei porque escrevo, nem para quem! Não escrevo para convencer, nem sequer para seduzir. Não sou um almocreve de ideias e sentimentos. Escrevo porque me dá prazer! Com ironia e uma pitada de poesia. Gosto de dar ao mundo letras que dançam desequilibradas. Escrevo enquanto me dá prazer. Já me preocupei com as coisas e as pessoas. E pouco aprendi. As pessoas, as pessoas são fantásticas. Andam tão ocupadas. E eu a ruminar à sombra como uma vaca grávida! A ponte une mundos; a porta separa-os, mas liga e desliga. Já não estou onde estou. A porta é uma tentação. Acontece cair em melancolia, mas esta melancolia não presta, não vem de dentro mas de fora. Não aprecio a melancolia azeda, esgrimida, mas a melancolia destilada, que pinga gota a gota, depois de muito penar no alambique.

Hoje, o meu amigo faz anos, os mesmos que eu. Creio que ainda gosta destas músicas. As duas primeiras remontam aos tempos de estudante. A terceira é especial. Acompanhou-nos numa viagem entre Monção e os Arcos de Valdevez, pela estrada de Sistelo. A música é amiga da memória.

Brigada Victor Jara. Marião. Eito Fora. 1977.
Sérgio Godinho. Paula. Os Sobreviventes. 1972.
Vivaldi Concerto in C major RV 443 (largo). Intérprete: Lucie Horsch.