As mui ricas horas
O Tendências do Imaginário dedicou dois artigos ao modo como a vida no campo é retratada na arte: a obra de Jean-François Millet (Pintar o Campesinato: Jean-François Millet) e o Luttrel Psalter
(Pintar o Campesinato: O Luttrell Psalter). Chegou a vez das Très Riches Heures du duc de Berry. “Um expoente dos livros iluminados”, que levou 77 anos a concretizar. Os autores foram os Irmãos Limbourg, entre 1412 e 1416; Barthélemy van Eyck (?), na década de 1440, e Jean Colombe, entre 1485 e 1489. O livro contempla, entre outras iluminuras, os doze meses do ano com as respectivas actividades típicas.
Sobreviveram milhares de livros de horas. Provenientes, principalmente, das oficinas de Paris e de Flandres, a sua produção resultava cara e demorada. Acontecia, como no caso do Très Riches Heures, o destinatário falecer antes da conclusão do livro. A obsessão pela salvação da alma convivia, nesses tempos, com o “amor pela imagem”. Mas não vivemos nós na era da imagem? Somos, graças a Deus, a era de tudo. Olhar para trás é capaz de fazer bem ao pescoço e à cabeça!
Durante a Idade Média e o Renascimento, o valor dos livros de horas era de tal ordem que as pessoas faziam questão de os colocar nos retratos. Um símbolo de piedade, mas também de estatuto. No célebre quadro O banqueiro e sua esposa (1514), de Quentin Massys, a esposa tem um livro de horas nas mãos.
Galeria de imagens. Les Très Riches Heures du duc de Berry. Meses do ano.