O Ouro e a Mirra
A epifania dos três magos está consagrada no capítulo 2 do Evangelho segundo Mateus (transcrito, em baixo, na íntegra). Os magos, guiados por uma estrela, falaram com Herodes, adoraram o menino Jesus e “ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra”. São Mateus não diz quantos magos eram, nem sequer menciona os seus nomes. Muito menos atribui este ou aquele presente a este ou aquele mago. Com o tempo, viriam a chamar-se Gaspar, Belchior e Baltazar, oferecendo Gaspar o incenso, Belchior o ouro e Baltazar a mirra. Simbolicamente, o incenso representa a divindade, o ouro a realeza e a mirra, resina utilizada pelos egípcios no embalsamento dos corpos, a humanidade, a mortalidade e o sofrimento.
Bento XVI reinterpreta, no livro A Infância de Jesus (Principia Editora, 2012), o Evangelho segundo Mateus, nomeadamente no que respeita à Natividade. Não só questiona a presença da vaca e do burro no presépio, como afiança que os magos não partiram do Oriente, mas do extremo Ocidente, de Tartessos, uma região da península ibérica situada algures entre Huelva, Cádis e Sevilha. Regressemos aos presentes dos magos, ousando, também, reinterpretar. O presente de Gaspar não foi incenso. Ainda menos, ouro. O presente de Gaspar foi mirra. O que condiz com a profecia do eremita do Mar da Palha: dois milénios após o nascimento de Cristo, a ocidente de Tartessos, um vice-rei de nome Gaspar vai mirrar, mirrar, mirrar o povo até o embalsamar numa lata de sardinhas.
EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
Capítulo 2
1 Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
2 Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
3 A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
4 Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
5 Disseram-lhe: Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta:
6 E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo (Miq 5,2).
7 Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exacta em que o astro lhes tinha aparecido.
8 E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.
9 Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.
10 A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
11 Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
12 Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.
13 Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egipto; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.
14 José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto.