Nus, Ferozes e Canibais
Marca: Pantene. Título: Gisele made of salt. Agência: Wunderman. Direção: Andrew Peleikis. Brasil, Dezembro 2012.
Gisele Bündchen com sal! E não digo mais, para não sair pecado. Este anúncio brasileiro da Pantene lembra-me, por vias travessas, as aventuras de Hans Staden (1525-1579), um marinheiro mercenário alemão que chegou a Portugal no dia 29 de Abril de 1547 a bordo de um “navio que tencionava tomar carga de sal”.
Hans Staden embarcou duas vezes para o Brasil. A primeira, em 1548, rumo a Pernambuco, a bordo de um barco português. Na segunda viagem, parte de Sevilha num navio espanhol rumo a Rio da Prata. O navio naufragou na costa brasileira. Depois de várias peripécias, é capturado pelos Tupinambá, uma tribo de “selvagens nus, ferozes e canibais”, localizada perto de São Paulo. Durante meses, se não anos, consegue refrear-lhes o apetite. Acaba por ser comprado por franceses. No dia 30 de Outubro de 1554, levanta âncora do porto de Rio de Janeiro. Chega a França no dia 20 de Fevereiro de 1555.
Regressado à Alemanha, escreve e ilustra minuciosamente as suas memórias que publica numa primeira edição, menos cuidada, em 1556, e numa segunda edição, mais aprimorada, em 1557, com o título: “Descrição Verdadeira de um País de Selvagens, Nus e Canibais, Situado no Novo Mundo América, Desconhecido na Terra de Hessen antes e depois do Nascimento de Cristo, até que , há dois Anos, Hans Staden, de Homberg, em Hessen, por sua própria experiência, o conheceu e agora o dá à luz pela segunda vez, diligentemente aumentada e melhorada”.
Trata-se de um documento de elevado valor histórico, antropológico e literário. Inspirou um filme (Hans Staden, 1999) e uma banda desenhada (Jô Olveira, Hans Staden: um aventureiro no novo mundo, Conrad Editora, São Paulo, 2005). Tive o ensejo de ler, nos anos setenta, a tradução francesa: Nus, Féroces et Anthropofages. Recomendo a leitura. Pode fazer download da edição da Publicações da Academia Brasileira, de 1930 (184 pp; 11,3 MB), carregando aqui: Hans Staden – Viagem ao Brasil (1930)