French Kiss: A minha língua, a tua língua

Num texto português de meia dúzia de linhas, surgem as palavras: smart city, start up, ranking, call e paper. Todas as gerações têm direito às suas palavras-chave. Smart city, start up, ranking, call e paper são chavões apreciativos. Parece que o português não tem palavras para os fenómenos do presente com futuro reluzente. Caem bem palavras de outros horizontes, outras peritagens e outros poderes.
Smart city. Não é o mesmo que “cidade inteligente”. É reduzir o valor (no sentido de Saussure) da expressão inglesa que significa, também, esperteza, requinte, capacidade… Cidade esperta? O melhor é seguir viagem.
Start up. Por que não “empresa emergente”? Perdia-se a ligação à bolha tecnológica. E start up vibra com ressonâncias ascendentes: wake up; make up; pin up…
Ranking? Ordenação, classificação, hierarquia, posição, nível… O português tem demasiadas palavras para dizer uma operação tão simples. Se antes pecava por defeito, agora peca por excesso.
Call. A palavra inglesa possui uma aura religiosa mais ampla e acentuada do que a palavra portuguesa “chamada”. Convoca a vocação e o chamamento, ambos pressupostos nos encontros científicos. Por sua vez, convite é, porventura, demasiado cortês.
Paper. Nada a dizer. Apenas a dissonância introduzida pelos papers electrónicos. Abençoadas as palavras que têm a sina de dizer mais do que aquilo que dizem.

Traduzir palavras do inglês para o português é tarefa difícil. O inverso, também. Talvez o French Kiss possa ajudar.
Smart city, start up, ranking, call e paper são palavras que assumem o sentido que lhes vamos concedendo. São smart words. Smart, mesmo Smart, é o carro. Very Smart!
Assim como o Smart tem mais lugares onde estacionar, a tua língua é melhor que a minha. O mesmo texto escrito em duas línguas diferentes não tem o mesmo alcance, melhor, o mesmo impacto. A língua é poder, bem como enpowerment. Palavra de blogger.
Ocasionalmente, apetece pintar meias verdades: o fraco tende a agarrar-se ao forte.
Amor sobre rodas
O anúncio espanhol Electric Love, da Smart, dá-se ao luxo de tomar o seu tempo (2:39). É repetitivo e atarda-se em cada sequência. Respira jovialidade, confiança e sedução. Adivinha-se o público-alvo. Trata-se de um anúncio meticuloso: cada imagem, cada som, no seu momento oportuno.
Para constratar, passemos da publicidade para a música. Clássica ou moderna, a Espanha sempre foi um país de boa música. Héroes del Silêncio consta entre os melhores grupos rock espanhóis. A revista Rolling Stone, de 22 de novembro de 2012, atribui-lhe o segundo lugar num conjunto de cinquenta grupos rock “mais representativos de Espanha” (http://rollingstone.es/noticias/especial-rs-los-50-mejores-grupos-de-rock-espanol/). Retenho duas cançõe: El Estanque, do álbum El Mar No Cesa (1988) e La Chispa Adecuada, do álbum Avalancha (1995).
Skate duplo
As modalidades de desporto de deslize distinguem-se consoante o grau de ecologização e de motorização. O ski náutico e o jetski são motorizados; o ski alpino ou o surf não o são e promovem uma postura mais ecológica. Não obstante, todos evoluem, com maior ou menor envolvência, na “natureza”. O skate é um parente, não motorizado, que se aparta dos demais pela sua costela urbana. As ondas são lombas e a “poudreuse”, calçada. De toda a família Skate & Surf, afirma-se como o rebento mais acessível e mais asfáltico. Na publicidade, o skate é vedeta. Neste belo anúncio, o skate é rei e o Smart um regalo real. Os dois skaters, Kilian Martin e Alfredo Urbon, são espanhóis, o anúncio é britânico e a música, “You Rascal You, do norte-americano Hanni el Khatib, que, por sinal, atuou este Julho no Super Bock Super Rock.
Marca: Smart. Título: Skate for two. Agência: Weapon7. Reino Unido, Setembro 2012.
Facelift
Para um sentimental, não há nada como um belo casamento, da imagem com o som, mais uma pequena narrativa a segurar nas alianças. Eis o anúncio Facelift do Smart em versão longa.
Marca: Smart. Título: Facelift. Agência: BBDO proximity, Berlin. Direção: Robert Jitzmark. Alemanha, Maio 2012.