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Crime e Arte

Bernardino Mei. Orestes matando Egisto e Clitemnestra. 1654

A religião do crime envenena tanto quanto a da virtude

Laure Conan (1845 – 1924)

Nos últimos dias, desapareci praticamente das redes sociais. Estou a preparar duas comunicações: uma para o Seminário Crime e Arte, no dia 15 e 16 de maio, terça, no Auditório Nobre da Escola de Direito da Universidade do Minho, intitulada “A ambivalência do crime na arte”, com duração prevista de 20 minutos, a outra, que mais me (pre)ocupa, no dia 27 de maio, sábado, no Auditório do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, intitulada “Os antepassados do surrealismo: o maneirismo”, que ultrapassará os 60 minutos. Absorve-me a construção dos elementos audiovisuais: em consonância com o tema, vai relevar mais de um espetáculo do que de uma conversa, mais parente da arte do que da ciência. Prevê o visionamento de seis apresentações com fundo musical, bem como de videoclips, anúncios e publicações originais dos séculos XVI e XVII.

Anexo o cartaz do III Seminário Crime e Arte, Aproveito o ensejo e o intervalo para acrescentar o vídeo musical da canção “Bonnie and Clyde”, de Serge Gainsbourg e Brigitte Bardot (1968).

Serge Gainsbourg & Brigitte Bardot. Bonnie and Clyde. Serge Gainsbourg, Initials B. B., 1968 / Serge Gainsbourg & Brigitte Bardo, Bonnie and Clyde, 168.

Raiva

“Todos os meus tormentos cingem-se a uma passagem – Do medo à esperança, da esperança à raiva” (Jean Racine, Bérénice, 1670).

Tive a sorte de ter excelentes companheiros nos quartos do Hospital. O último lamentava-se e chorava com frequência. Ao aparar a relva, uma pedra vazou-lhe um olho: – Meu Deus, MeuDeus, o que me foi acontecer. Que vai ser dos meus dois filhinhos? Valha-me Deus! Interrompi-o, com aquele jeito blasfemo: – Deus anda a fumar haxixe! (charutos, diria Serge Gainsbourg). Saiu assim: nu, bruto e abrupto. E as lágrimas cederam ao riso.

Cintila uma raiva daninha no meu olhar embaciado. Brota das entranhas. Manifesta-se de duvidosa utilidade.

Armaggedon. Buzzard. Armaggedon. 1975
Serge Gainsbourg. Dieu est un fumeur de havane. Com Catherine Deneuve. 1980.

Desconfinamento, libertação e sexo

Henri de Toulouse_lautrec. Marcelle Lender dancing the bolero in Chilperic. 1895.

Vários anúncios, centrados na sensação de libertação, podiam ilustrar o início do desconfinamento. O anúncio For when it’s time, da Extra Gum, incide, contudo, sobre o próprio movimento de desconfinamento: corpos, fluxos e, sobretudo, sexo. Um amor militante e multicolorido à moda dos anos sessenta. Depois da separação, o amor. Sea, Sex And Sun.

Marca: Extra Gum. Título: For When it’s Time. Agência: Energy BBDO. Direção: Nick Ball. Reino Unido, abril 2014.
Serge Gainsbourg. Sea, Sex And Sun. 1978.

Lembrete. O efeito Frankenstein.

Publicidade antitabaco.

Na embalagem de cigarros, uma imagem deveras feia: uma perna com cortes e suturas (ver, no mosaico, a imagem em baixo à direita). Quem, por coincidência, aguarde cirurgia à perna, não por obstrução das artérias mas por uma veia alargada, deve agradecer esta simpatia ou lembrete de Estado. Não há nada como a propaganda de massas a exalar falta de decoro. Quando o bem se diz com choque é chocante. É terrível e histórica a tentação de pregar o bem com o mau.

Serge Gainsbourg com Catherine Deneuve. Dieu fumeur de havanês. Single. 1980.

A menina de Paris

France Gall e Michel Berger

France Gall e Michel Berger

Morreu hoje em Paris France Gall, a menina bonita e frágil da canção francesa. Junto dois vídeos.

O primeiro com a canção Les sucettes, de 1966, com Serge Gainsbourg, compositor que não poupou duplos sentidos numa letra infantil a resvalar para a sexualidade.

O segundo com a canção La Lettre,  de 1992, com Michel Berger, compositor e marido.

France Gall & Serge Gainsbourg. Les Sucettes. Les Sucettes. 1966.

France Gall & Michel Berger. La Lettre. Double Jeu. 1992

Vim para te dizer que vou embora!

Vincent Van Gogh. A Pair of Shoes, Paris, 1886.

Vincent Van Gogh. A Pair of Shoes, Paris, 1886.

Gosto de Serge Gainsbourg, uma espécie de sósia: torto, cavernoso e molesto. Gosto do Paul Verlaine, compositor de palavras, convocado em Je suis venu pour te dire que je m’en vais (1971). Gosto de Jacques Prévert, das “folhas mortas”, e da Chanson de Prévert (1961), de Serge Gainsbourg. Gostava de ir embora, mas o governo decretou um limbo profissional: entre a idade a que teria reforma e aquela que não sei se terei. Em tempo de crise, o envelhecimento também tem limites. Responsabilidades? Os governos já se pronunciaram: Portugal tem funcionários e os portugueses fazem compras. “Vou pedir contas ao mundo além naquele coreto”. Lá vai um! Lá vão dois! Três bancos a voar. Um pago eu, o outro pagas tu, o outro paga quem puder (paráfrase de José Afonso. Avenida de Angola. Traz outro amigo também. 1970).

Serge Gainsbourg. Je suis venu te dire que je m’en vais. Vu de l’extérieur. 1971.

Serge Gainsbourg. La Chanson de Prévert. L’étonnant Serge Gainsbourg. 1961.