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Saltos altos

Joana Vasconcelos. Cinderela.

Joana Vasconcelos. Cinderela.

Não sei se somos um país de sobressaltos. Mas somos um país de saltos altos. A começar pela Cinderela de Joana Vasconcelos. Os sapatos altos assumem, ao longo da história, diversas funções: rituais; higiénicas (protecção contra a lama e as imundícies das ruas); dramatúrgicas (expressão do estatuto social das personagens); publicitárias (adereço distintivo das prostitutas no Império Romano); de controlo (dificuldade de locomoção a quem se quer por perto); e corporais (compensação da natureza).

Don Rodrigo de Moura Telles. Arcebispo de Braga.

Don Rodrigo de Moura Telles. Arcebispo de Braga.

Nos séculos XVI e XVII, reis, rainhas, nobres e pessoas abastadas calçaram sapatos de saltos altos. Don Rodrigo de Moura Telles (1644-1728), ilustre arcebispos de Braga, é um bom exemplo. De baixa estatura, os sapatos de salto alto, de que existe um exemplar no Tesouro-Museu da Sé de Braga, ajudavam o arcebispo a aceder à mesa das celebrações. Durante séculos, o salto alto foi associado à nobreza. Era alto e altivo. Curiosamente, após a Revolução Francesa, os saltos altos quase desapareceram.

Tesouro-Museu da Sé de Braga. Sapatos Litúrgicos do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, séc. XVIII, fotografia de Manuel Correia

Sapatos Litúrgicos do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, séc. XVIII.

Enquanto moda, os saltos altos são cíclicos. Como a barba. Não deixam, porém, de se enquadrar na calibragem dos corpos iniciada na Idade Média: alto, direito, liso, fechado, leve e frontal. O salto alto contemporâneo não é altivo. Eleva, endireita, pula e avança. Não me recordo de um momento de moda com saltos tão altos. A princípio, parecia-me que as pessoas andavam com chapéus nos pés. Mas depressa me afeiçoei. Moda que perdura é a de as pessoas andarem sem nada na cabeça.

Para uma breve história do sapato de salto: História do Sapato de Salto.