O sonho de voar, o negócio de vestir

Voar, eis o sonho! Coreografar, eis a arte! Vestir, eis o negócio!
Preconceito pró-activo

“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo” (Karl Marx, Teses sobre Feuerbach, 1845).
Em matéria de discriminação de crianças, sabemos muito da realidade que a UNICEF nos quer ensinar. Saber é importante, mesmo quando fingimos o contrário. Mas não chega. Este “apanhado” da UNICEF é um “soco no estômago da gente”, que, como diz Michel Maffesoli, entra, sai e passa. De espanto em espanto, de palavra em palavra, o pensamento submerge.
O José Alberto enviou-me, em boa hora, este anúncio de sensibilização da UNICEF centrado no olhar (ver para crer). Enviou a versão comentada em brasileiro por Madeleine Lacsko (vídeo 2). Reproduzo, também, a versão original, parcimoniosamente despida de palavras (vídeo 1).
H&M: Reciclagem de roupa
The collection is made from recycled textile from the Garment Collecting initiative in H&M’s own stores. H&M has made a film with a clear message: “There are no rules in fashion but one, to recycle your clothes”. H&M has made it a mission to create a loop when it comes to textile. By receiving old clothes and using it in the manufacturing of new products H&M seeks to minimize the damage on the environment and create a new future for the fashion industry.
A H&M concebeu uma campanha brilhante com o selo da ecologia e da sustentabilidade. Propõe-se comprar roupa usada e recicla-la. Já está a funcionar em Braga. Compra, é certo, barato. Mas o cerne da questão não reside no negócio económico mas no envolvimento simbólico. Quer-me parecer que as pessoas acodem mais depressa, e com outra motivação, às lojas da H&M para vender um saco de roupa usada por 5 euros do que para beneficiar de um desconto de 10 euros. Saber vender é uma profissão; consegui-lo é uma arte.
Marca: H&M. Título: Close de loop. Dinamarca, setembro 2015.
O último refúgio
Este anúncio do IKEA é aprazível, onírico, uma boa aposta na estética. Uma ideia simples bem explorada. T shirts associadas a aves, aves que não encontram pouso a não ser nos armários IKEA. Este anúncio lembra outro, magnífico, da Ariston Aqualtis (Underwater World, 2006). Recoloco-o porque o anúncio merece! E nós. também. Há dias, mencionei a relação entre o eu e o outro como chave mestra da publicidade. Anúncios como este mostram que não convém esquecer o sonho.
Marca: IKEA. Título: The Joy of Storage. Agência: Mother (London). Direcção: Dougal Wilson. UK, Janeiro 2015.
A Guerra dos Trapos

Les Cent Nouvelles Nouvelles, Frankrijk, c.1475-1500, Glasgow University.
Em matéria de pulsões humanas, a violência faz sombra ao sexo. Na publicidade e na vida. A mistura da violência com o absurdo pode dar azo a um cocktail de humor brutesco. Neste anúncio alemão da Jungstil, duas Atenas furiosas enfrentam-se, até às últimas consequências, na arena dos saldos.
Marca: Jungstil. Título: Gewilt ist Keine Lösung. Agência: Vasata & Schröder. Direção: Kai Sehr. Alemanha, 2009.
Roupa fantástica
Três homens aproximam-se com uma caixa. Uma mulher sai da piscina e carrega num botão vermelho na caixa entreaberta. Fantástico? Não, fantástico é o biquíni! Uma mulher mascarada aproxima-se da mesa de um casal. Rega um cato com gin e atira-o ao ar. Fantástico? Não, fantástica é a bolsa de mão! Outra mulher aproxima-se de outro casal, tira um pintainho da bolsa e pousa-o sobre a mesa. Fantástico? Não, fantástico é o vestido. Um anúncio insinuou-se no ecrã e conta três histórias estranhas. Fantástico? Não, fantásticas são as modelos.
Marca: Otto. Título: We All Wonder. Agência: Heimat Berlin. Direção: Leila & Damien de Blinkk. Alemanha, Abril 2013.
Fruta vestida
“Para uma vida humana condigna, as crianças carecem tanto de roupa como de alimentação”. Este print lembra Joana Vasconcelos.
Anunciante: Kinderhilfe West Afrika Children’s Aid. Título: Knitted Food. Agência: Draftfcb, Vienna. Áustria, 2011