A Arte do Ruído na Viragem do Milénio
Para ensinar algo às pessoas, convém misturar o que elas conhecem com o que elas ignoram (Pablo Picasso)
Qualquer ruído escutado durante muito tempo torna-se uma voz (Victor Hugo)
A procura da primeira música matinal encalhou no álbum The seduction of Claude Debussy (1999), o quinto e último dos Art of Noise. Música eletrónica com declamação e ópera à mistura. Por que não? Aspiração e inspiração à solta. Trata-se de um álbum com uma sonoridade diferente dos precedentes Who’s Afraid of the Art of Noise? (1984), In Visible Silence (1986), In No Sense? Nonsense! (1987) e Below the Waste (1989). Conceptual, mistura trechos do compositor impressionista francês com bateria, baixo, ópera, hip hop, jazz, récitas, ruídos digitalizados e a voz da alta mezzo-soprano Sally Bradshaw.
Vanguardistas, os Art of Noise constituíram um grupo britânico de synth-pop que foi fundado em 1983 pelo engenheiro/produtor Gary Langan e pelo programador JJ Jeczalik, acompanhados pela teclista/arranjadora Anne Dudley, pelo produtor Trevor Horn e pelo jornalista de música Paulo Morley. Foram pioneiros no uso intensivo e criativo do Fairlight, instrumento musical eletrónico de origem australiana que permite o processamento computadorizado e a interpretação de amostras de sons através de um teclado semelhante ao de um piano (o vídeo com a canção Born On A Sunday ilustra, de algum modo, este procedimento). “Beat Box”, “Moments in Love”, “It’s All About Me”, “Close (to the Edit)” e os covers “Video Killed the Radio Star”, “Peter Gunn” e “Kiss” conquistaram os primeiros lugares nas tabelas de vendas. Várias composições integram filmes tais como O Diário de Bridget Jones, Os Anjos de Charlie: Potência Máxima ou A Minha Madrasta É Um Extraterrestre.
Brincar com coisas sérias

O projeto Omiri, dado a misturas e remisturas desinibidas, vai ao All Music Fest, em Melgaço, no dia 6 de Março.
“Omiri é, acima de tudo, remix, a cultura do século XXI, ao misturar num só espectáculo práticas musicais já esquecidas, tornando-as permeáveis e acessíveis à cultura dos nossos dias, isto é, sincronizando formas e músicas da nossa tradição rural com a linguagem da cultura urbana” (http://amusicaportuguesaagostardelapropria.org/projetos/omiri/).
Brinquemos! A brincar também se inventa.
Caldeirada de estímulos
Apetece-me parodiar Karl Marx: o ser humano é racional. É movido por interesses. Só não sabe quais.
Zygmunt Bauman afirma que a modernidade é líquida. Serei mais preciso: é uma caldeirada de estímulos. Por exemplo, o anúncio brasileiro Grand Finale é uma de caldeirada de estímulos. Um atropelo de música e um sortido de futebol regados pela espuma heróica da cerveja Heineken. What else? Uma pitada de sexo.
Marca: Heineken. Título: Grand Finale. Agência: Publicis Brasil. Direcção: Rodrigo Gameiro, Junho 2018.
Salada de imagens publicitárias
Luerzer’s Archive é um serviço online com bases de dados de imagens (fotografias, vídeos, design, prints, anúncios…). As colectâneas constam entre os seus principais produtos. Este vídeo é composto por uma mistura de sequências de anúncios publicitários do realizador Jonathan Glazer, nome que também está ligado à produção de filmes (Sexy Beast, Birth, Under the skin) e vídeos musicais (Massive Attack, Blur, Radiohead, Jamiroquai, Nick Cave, entre outros).
Produto: Lurzer’s Archive. Título: One place, Glazer. Alemanha, Fevereiro 2012.