Tag Archive | Lisboa

Cirurgia à memória coletiva

Fotografia de Valter Vinagre. Fonte: https://www.timeout.pt/lisboa/pt/arte/despedido

Interessa-me a questão da destruição da arte. É uma modalidade de erosão da memória coletiva mais frequente do que estamos, espontaneamente, inclinados a pensar. A arte não detém, contudo, o exclusivo. Longe disso. Existem outros mundos alvo de apagamento da memória coletiva, alguns relativamente próximos da arte. É o caso de espaços de diversão e lazer tais como a Feira Popular de Lisboa ou o Palácio de Cristal do Porto devorados pela reconversão urbana. Em Braga, sucedeu algo semelhante à Bracalândia.

A propósito da exposição e do livro de fotografias, ambos com a mesma designação (Despedido), de Valter Vinagre (Narrativa, Alvalade), o jornal Público / ípsilon de hoje (18 de Dezembro de 2022, 7:46), dedica um artigo de fundo, da autoria de Sérgio B. Gomes, às “feridas” e às “cicatrizes” da Feira Popular de Lisboa, com o título “Notícias de um fantasma: Feira Popular de Lisboa”. Ousando extrair dois parágrafos, recomendo a leitura.

Nas sete fotografias de destruição da feira escolhidas por Vinagre — as mesmas, tanto para o livro (edição da Pierrot Le Fou, com ensaio de Emília Tavares), como para a exposição — só se vislumbram pormenores em segundos planos que identificam Lisboa. Este “fotografar de dentro para dentro” foi uma opção deliberada na tentativa de provocar “mais curiosidade” e de alargar o campo de discussão. “Ao fechar estas imagens, posso falar mais amplamente sobre destruição de memória colectiva, porque não as vemos apenas como fotografias de entulho da antiga Feira Popular, mas de qualquer processo de destruição de memória colectiva. Claro que elas pertencem a uma geografia, neste caso lisboeta, mas eu quero falar de um problema que é mundial, sobretudo das grandes cidades.

Se se perguntar hoje porque é que a Feira Popular de Lisboa acabou (ou foi acabando, consoante quem perguntar), a resposta pode ser tudo menos evidente ou simples. Um pouco como se se perguntar no Porto porque é que o antigo Palácio de Cristal foi destruído. Aqui, a resposta pode ser: porque a cidade não tinha um espaço para organizar o Campeonato Mundial e Europeu de Hóquei em Patins Masculino de 1952. Mas é sempre mais complexo do que um facto, um soluço, uma dificuldade, a falta de um campo de patinagem, um presidente, um vereador. E não é por acaso que muitos, dentro e fora do Porto, se referem ao actual Super Bock Arena — Pavilhão Rosa Mota como ​“Palácio de Cristal”. Será um sinal de que as cidades são as pessoas, o usufruto que delas fazem, carregado com os seus imaginários, os seus quotidianos? Que cidade é Lisboa agora? É de ruínas que ainda falamos? “É. Quando olho para a cidade hoje, sobretudo a cidade que foi despejada, vejo-a cheia de cores, mas o que está à minha frente parece um filme — o que nos é dado a ver, porque já só quase vemos a cidade de fora —, é como se fosse um cenário. Os que viveram a cidade antes não conseguem abstrair-se do que existia. Por muito que gostemos de ver os bairros de Lisboa sem a decrepitude ou com condições de habitabilidade infra-humanas, aquilo que aconteceu é que deixou de ser isto para ser um artifício, um lugar a que não se tem acesso — ou melhor, só se entra nele se for para trabalhar, não para viver, porque não há poder económico para viver na cidade.

(Sérgio B. Nunes. Público / ýpsilon. “Notícias de um fantasma: Feira Popular de Lisboa”. Jornal Público, 18 de Dezembro de 2022, 7:46)

AC/DC em Lisboa

acdcNão é fácil conceber a estrutura, a forma ou a configuração. A ideia do todo para além das partes colide com a experiência quotidiana e o acerbo de conhecimentos disponíveis (Alfred Schutz, Collected Papers 1. The Problem of Social Reality, 1962). Os AC/DC são um bom exemplo de configuração: mudam-se os membros e a banda continua. Actuaram, ontem, em Lisboa, com o Axl Rose como vocalista. A minha tribo veio encantada. Pelos vistos, foi um concerto memorável.

AC/DC (Feat. Axl Rose), Rock or Bust. Ao vivo em Lisboa, 7 de Maio de 2016.

 

Cheiro a Lisboa

puttin-on-the-ritz-mother-londonA agência Mother London resgata a canção Puttin’ on the Ritz, de 1929, numa animação dançante, com trejeitos psicadélicos e cenários inspirados nas ruas de Lisboa. Formas, cores e ritmos embriagantes. Um anúncio fantástico. Portugal está no vento!

Marca: Ritz. Título: Puttin’on the Ritz. Agência: Mother London. Direcção: Fredrik Bond. UK, Julho 2015.

Mergulhar no futuro

Expo 98. Anúncio.

Há algum tempo que não tenho ocasião de falar em desgravitação. A nadadora Lenka Tanner dá a sensação de correr na água. Mas o anúncio é estranho, uma ilusão ao jeito de M. C. Escher. Lenka corre no ar sobre a água ou na água sob o ar? Corre no ecrã e na nossa cabeça. Mas como? Desafia e confunde. Novas ideias, novas tecnologias: o mundo já não é o que era, agora até parece impossível (ver pdf  Como nunca ninguém viu). Um excelente anúncio! Criativo. E a música? Entre o berço e a hipnose. Dá vontade de ir a Kuoni. Para voar na água e nadar no ar. Este anúncio da agência inglesa Grey também dá vontade de “mergulhar no futuro”. Lembram-se? Lembram-se daqueles anúncios extraordinários da Expo 98? Depois de voar na água e de nadar no ar, vamos lá mergulhar no futuro! Desde a Expo 98, não paramos de mergulhar no futuro.

Marca: Kuoni Travel. Título: Find Your Amazing. Agência: Grey London. Direcção: Marcus Söderlung. UK, Janeiro 2015.

Expo 98. Portugal

Expo 98. Portugal

Sardinha artística

sardinhas

A Germana enviou-me das ilhas este vídeo delicioso.

Sardinha Emigrei

Da lisura do ser

ModaLisboa-Vision-feature-aGosto de vanguardas. Sobretudo, na moda. As vanguardas pastoreiam as tendências com cajado inspirado. Um simples gesto e logram efeitos assombrosos.
As estrias, as rugas e os pelos são excrescências incómodas em vias de extinção ou alisamento. Serão os seios, ao contrário das bocas, a próxima irregularidade dispensável?
Um belo anúncio, com uma excelente sequência de imagens.

Marca: Moda Lisboa/Lisboa Fashion Week. Título: Vision. Agência: Y&R Lisbon. Direção: Miguel Coimbra. Portugal, Março 2014.

Comunicação, realidade e ficção

O que é realidade e o que é ficção? A ausência de discernimento releva da hiper-realidade, da psicose, do discurso político ou de media sobre-excitados? Tornar uma ficção realidade, desfazer e refazer é um ato de comunicação?
Nos anúncios seguintes, são notórios os efeitos de verdade/ficção graças aos media.
Why an eccentric brazilian billionnaire dug a grave for his Bentley é um caso digno de atenção. O abuso dos media, a dramatização, a interacção e a  mobilização compõem uma receita de sensibilização social com um futuro promissor. Com este anúncio, o Brasil recoloca-se na vanguarda da publicidade.

Marca: Associação Brasileira para o Transplante de Órgãos. Título: Why an eccentric brazilian billionnaire dug a grave for his Bentley. Agência: Leo Burnett Tailor Made – Brazil. Brasil, Outubro 2013.

Portugal também tem os seus truques à Orson Welles. No seguinte “anúncio”, um noticiário de televisão capta em directo uma invasão de aranhas gigantes na ponte 25 de Abril. Convenha-se, contudo, que aranhas gigantes em Lisboa não são grande novidade. As teias cobrem, há muito, o país. Carregar na imagem.

Aranhas Gigantes em Lisboa

Aranhas Gigantes em Lisboa

 

Moda Lisboa

Porque é moda. Porque é Lisboa. Porque é a preto e branco. Porque está bem feito. Porque sim! Carregar em HD.

Marca: Moda Lisboa. Título: a Catwalk on the rooftop. Agência: Y & R Lisbon. Direção: Enrique Escamilla / Garage Films. Portugal, Março 2013.

Marca: Moda Lisboa. Título: Nos telhados da cidade. Agência: Y & R Lisbon. Direção: Enrique Escamilla / Garage Films. Portugal, Março 2013.

“Os Grandes Alquimistas do Nosso Tempo”

Em Portugal, também há ideias simples com impacto. Este anúncio, Predictable, da WWF (2009), é um exemplo: a água transborda com o degelo. Atendendo ao nosso calendário, ao mesmo tempo comprimido e saturado, trata-se de um anúncio que “já tem alguns anos”. Entretanto, a mobilização contra o aquecimento global parece ter sofrido algum arrefecimento. A produção deste anúncio coube à Albiñana Films, empresa com sede em Barcelona, Madrid, Lisboa e São Paulo, cujo vídeo de apresentação é todo um programa de reencantamento do mundo (Peter L. Berger), sintonizado, aliás, com algumas das tendências que temos vindo a investigar. Vale a pena prestar atenção ao discurso em voz-off.

Anunciane: WWF Vote Earth! Título: Predictable. Agência: Ogilvy, Lisbon. Direção: Ricardo Albiñana. Produção: Albiñana Films. Portugal, Dezembro 2009.

Albiñana Films. Vídeo Presentation.

Um reparo adicional. Os anúncios publicitários são tantos e contêm tantas dimensões que é difícil um anúncio não lembrar algum outro. No caso deste vídeo de apresentação da Albiñana Films, a solução adoptada para a voz-off aproxima-o bastante de um anúncio da BBC digital: Heads (2005):