Se o meu carro fosse um cavalo

O anúncio australiano Sleeper, da companhia de seguros NRMA, é inteligente, estranho e subtil. Somos convidados a acompanhar a viagem, noturna, de duas crianças e da respetiva mãe, ao volante. Adormecem, mas o carro prossegue caminho. Ficamos tensos à espera do pior. Alimentada pelas imagens, a tensão não abranda. A perturbação avoluma-se com a sensação de não perceber o que se passa, ou seja, porque nada se passa! Naquela noite, os carros conduzem sozinhos. “Enquanto os nossos carros não conduzirem sozinhos, conduza com segurança”. Como Jolly Jumper, o cavalo de Lucky Luke. As campanhas de prevenção rodoviária multiplicam-se na época natalícia..
Se conduzir, não beba!
Regresso regularmente a Bruno Aveillan. É vício. Os onze minutos que dedica ao Château Margaux, um dos melhores vinhos do mundo, são onze minutos de arte. A curta-metragem “Prodigy of the Architect” acompanha a construção do Palácio no início do século XIX. Esta é a sua história, contada mais com imagens do que com palavras. Fica na memória a “Musa do Vinho” que inspira o arquitecto Louis Combes.
Marca: Château Margaux. Título: Prodigy of the Architect. Direcção: Bruno Aveillan. França, Outubro 2015.
Não há um sem dois. Mais um anúncio do Bruno Aveillan. Tudo é arte? Assim o defende Marcel Duchamp. “Tudo é arte” ou “tudo pode ser arte”? Nada, porém, sem a assinatura dos artistas, das galerias, dos críticos, das escolas, dos movimentos, dos museus e dos coleccionadores. Tudo pode ser arte! Ou, caso se ajuste, criatividade. Até numa estrada pode circular a arte ou a criatividade. Por exemplo, A Rua da Estrada, de Álvaro Domingues (https://tendimag.com/?s=rua+da+estrada) ou o anúncio Road Speak, de Bruno Aveillan para a Bridgestone.
Marca: Bridgestone. Título: Road Speak. Agência: The Richards Group Dallas. Direcção: Bruno Aveillan. Estados Unidos, 2009.
Devagar o prazer é maior
Mais um anúncio com asas. As asas estão na moda e os anjinhos em alta.
Em 2008, pela primeira vez em quatro anos, o número de mortos na estrada aumentou na Suíça. Criou-se, de imediato, um consórcio com a Swiss Insurance Association, o Fund for Traffic Safety e o Council for Accident Prevention para a promoção de uma campanha conjunta contra o excesso de velocidade. com os jovens entre 18 e 30 anos como alvo prioritário. Lançada em 2010, a campanha (“Slow Down. Take it easy”) foi um êxito: enorme adesão no Facebook; a canção alcançou o 5º lugar no top helvético; mais de um milhão de visitas no You Tube; boa cobertura do público-alvo. Em 2011, o anúncio, feito por alemães, ganha o prémio Effie. Mas, no que me diz respeito, não consigo homeopatizar tamanha excelência. Gosto só assim-assim… E sofro com isso! Ainda se eu fosse helvético ou, pelo menos, vivesse na Suíça… Porque, em verdade, o caso não requer reflexividade, mas descentramento, seguido de compreensão. E se em vez da banda Da Sign & The Opposite, fossem os Xutos & Pontapés? E o Joaquim de Almeida a conduzir? E a garagem fosse em Lisboa?… Sinto que começo a gostar um pouco mais do anúncio. Até começo a dar-me conta que se trata de um anúncio de prevenção rodoviária que não assusta ninguém, sem moribundos nem estropiados e com uma mensagem deveras positiva: devagar o prazer é maior.
Anunciantes: SW, FVS, bfu. Título: Garage. Agência: Rod Communikation Zip Media GmbH. Alemanha, Maio 2010.
A vida por um fio
Se não quer cozinhar uma pitada de ideia, sempre pode puxar por um fio e desenrolar uma história. No fim, pode rematar com aquele sobressalto moral tão característico dos omniscientes e das fábulas. Com régua e com regras.
Marca: Ania Foundation. Título: Rules of the road. Agência: Publicis Italy. Direcção: Tom Willems. Itália, Setembro 2011.
Este post ganha em ser visto como uma continuação do post “Quando a linha recta não é a distância mais curta”.