Transfiguração
O anúncio Flip, da B&Q, é exotérico e surpreendente. Baralha o olhar. Uma mulher inteira-se que está grávida e o mundo transfigura-se. Porque de transfiguração se trata! A religião cristã sempre se debateu com um desafio: apostada na catequese e na mediação com o divino através da imagem, como lograr dar visibilidade ao invisível? A publicidade confronta-se com outro problema: como expressar um pico hiperbólico de emoção?
No que respeita à transfiguração, a resposta mais corrente parece ser, desde os evangelhos até aos anime, a suspensão da gravidade (ver A civilização da leveza), que neste anúncio se desdobra, em termos de relação com o espaço, em decomposição, à Tarkovsky, desorientação, à Escher, e transição, à Michel Gondry.

Tempos negros

La Mort Saint Innocent. Statue d’Albâtre présente au Cimetière des Innocents (Paris) de 1530 à 1786.
Estou a marinar, desde meados de Outubro, um artigo sobre os transi (esculturas tumulares, dos séculos XV e XVI, com corpos em decomposição, pasto de vermes, sapos e insectos). Antecipo duas imagens: a estátua de alabastro patente, entre 1530 e 1786, no cemitério dos Inocentes, em Paris; e a cabeça de L’Écorché, transi de René de Chalons , por Ligier Richier (ca. 1550).
Para baralhar, acrescento a interpretação ao vivo de Black Night, pelos Deep Purple, em 1970, na BBC. Às vezes, a velhice pede para ir beber à fonte.
Deep Purple. Black Night. Ao vivo na BBC. 1970.