O Amor e a Morte
La vie est une cerise / La mort est un noyau / L’amour un cerisier [A vida é uma cereja / A morte um caroço / O amor uma cerejeira] (Jacques Prévert. Chanson du mois de mai. Histoires et d’autres histoires. 1963).

Ando absorto com as esculturas funerárias. Quanto mais percorro os cemitérios, mais os sinais de vida se sobrepõem aos da morte. Principalmente, o amor, a realidade mais viva da vida humana, a única que, pelos vistos, pode triunfar sobre a morte.
Junto o anúncio Apariciones, de 2002, da Cruz Vermelha da Argentina. Raro, não o encontrei com melhor resolução. Vale o conceito e a canção, Sanvean – I am Your Shadow, da Lisa Gerrard.
A besta humana
A Cruz Vermelha, fundada em 1864, é a mais respeitável das instituições de solidariedade. Tem uma presença no terreno única. O primeiro anúncio, The one gift Santa can´t deliver, aborda o abandono de crianças durante os conflitos, as migrações e as catástrofes naturais. O segundo anúncio, Ce père va-t-il sauver sa fille?, oferece-se como uma ficção que se revela realidade: a destruição das condições mínimas de vida das populações.
Todos os anúncios são construídos e comportam um coeficiente de fantasia. O primeiro anúncio recorre à figura do Pai Natal, uma boa opção para a narrativa, mas também um amaciador da realidade. O segundo anúncio lembra as tragédias, os dramas e o suspense dos filmes e das séries televisivas mas são uma dura realidade. Ambos convocam crianças. Constituem dois anúncios pungentes de “sofrimento à distância” (Luc Boltanski, La souffrance à distance, 1994). O segundo mais do que o primeiro.
Anunciante: International Committee of Red Cross. (IRCR). Título: The one gift Santa can´t deliver. Agência: adam&eve DDB. Direcção: Gary Freedman. Reino Unido, Novembro 2018.
Anunciante: International Committee of Red Cross. (IRCR). Título: Ce père va-t-il sauver sa fille? Agência : Sra Rushmore. Direcção : James Rouse. Maio 2018.
Publicidade sem medo
É possível abordar assuntos sérios com humor. “Antes risos que prantos” (François Rabelais). Há quem procure sensibilizar à força e pelo medo (a campanha anti tabaco é um exemplo); e há quem o faça com humor e cumplicidade. Independentemente do conteúdo, o anúncio Aidez-nous à sauver des vies, da Cruz Vermelha francesa, é uma pérola da arte de consciencializar sem punir.
Anunciante: Croix-Rouge Française. Título: Aidez-nous à sauver des vies. Agência: Altmann + Pacreau. Direcção: David Bertram. França, Junho 2017.
A Super Avó
“Sejam realistas, peçam o impossível” (slogan de Maio 1968). Já não sou realista; contento-me com o desejável. Se rir é apanágio do homem (François Rabelais), partilhar é próprio de todos os animais, incluindo o homem. Dê, mas olhe a quem! Para salvar vidas, não precisa dos poderes da Super Avó (Super Gran), A fazer fé na Cruz Vermelha Francesa, basta vontade e dinheiro.
Anunciante: Croix-Rouge Française. Título: Aidez-nous à sauver des vies. Agência : Altmann + Pacreau. Direcção : David Bertram. Junho 2017.
Super Gran. Reino Unido, 1985-1987.
A lição
Não basta ensinar o que se sabe; importa saber o que se ensina. E quando se sabe o que se ensina, convém saber ensinar*.
Marca: Red Cross. Título: This history lesson will give you goosebumps. Agência: Duval Guilllaume Brussels. Bélgica, Maio 2016.
* Esta frase nasceu torta e torta há-de ficar. Carece esclarecimento. Há professores que oferecem a sua sabedoria para além dos conteúdos programáticos das disciplinas. Por vezes, repetem a dádiva de disciplina em disciplina. Uma deriva da aprendizagem. Por outro lado, existem professores que tanto sabem e os alunos tão pouco aprendem. Uma falha na comunicação. Um desperdício da aprendizagem.
Teleassistência
Um anúncio da Cruz Vermelha Portuguesa com bom senso, bom gosto e um slogan claro e oportuno: “Você é o primeiro a saber que precisa de ajuda. Seja o primeiro a pedir.” Barroco q.b., nada grotesco. Aguarda-se a divulgação na televisão portuguesa.
Anunciante: Cruz Vermelha Portuguesa. Título: Água. Agência: Leo Burnett Lisboa. Direção: João Fanfas. Portugal, Agosto 2012.
“Num país cada vez mais envelhecido — há 129 idosos para cada 100 jovens –, 400 mil idosos vivem sozinhos (CENSUS 2011). Este é um problema que é mais grave nas grandes cidades onde as redes de apoio familiar e de vizinhança são mais frágeis. As últimas notícias de idosos encontrados mortos em casa, dias ou mesmo semanas depois de terem morrido, retratam bem esta triste realidade. A dependência das pessoas, seja por idade, incapacidade, doença ou isolamento, bem como a sua segurança e saúde, são preocupação constante da Cruz Vermelha Portuguesa.
Neste âmbito, a Cruz Vermelha Portuguesa decidiu lançar uma campanha que chama a atenção para estas questões e dá a conhecer o seu serviço de Teleassistência.
Este filme, com o título “Água”, conta a história de alguém que precisa de ajuda e de algumas pessoas que estão próximas dela sem se aperceberem desse facto. O objectivo é mostrar que numa emergência, não se pode contar com a sorte, é preciso ser directo e pedir ajuda.
Com o desenvolvimento criativo da Leo Burnett Lisboa e a produção da Stopline como mecenato.” (Cruz Vermelha Portuguesa).
O grotesco e o sublime
No texto Do grotesco e do sublime (prefácio de Cromwell, São Paulo, Perspectiva, 2002) Victor Hugo escreve “A musa moderna (…) sentirá que tudo na criação não é humanamente belo, que o feio existe ao lado do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco no reverso do sublime, o mal com o bem, a sombra com a luz” (p. 26). Grotesco e sublime é este anúncio da Cruz Vermelha do México.
Anunciante: Cruz Roja México. Título: Gusanos. Agência: JWT México. México, Maio 2012.