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O inverno do Coronavírus e os heróis do sofá

Achille Talon. Por Greg. Banda desenhada franco-belga.

O anúncio Corona Winter, do governo da Alemanha (zusammen gegen corona) sublinha que, em tempos de pandemia, para ser herói basta não sair de casa. Só os parvos não são heróis. No anúncio, falado em alemão, uma pessoa de idade recorda os tempos da pandemia. Não descobri legendas em inglês. Segue a tradução do discurso do protagonista:

“Penso que foi no inverno 2020 que todos os olhos do país se fixaram em nós. Acabava de fazer 22 anos e prosseguia estudos de engenharia em Chemnitz quando a segunda vaga começou. 22 anos…Com essa idade, quer-se festejar, estudar, encontrar pessoas, isso tudo… Sair para beber uns copos. Mas o destino tinha outros projectos para nós. Um perigo invisível ameaçava tudo em que acreditávamos. De um momento para outro, o destino do país estava nas nossas mãos. Então, agarrámos a coragem com as duas mãos e fizemos o que era esperado de nós. A única coisa a fazer. Não fizemos nada. Absolutamente nada. Tão preguiçosos como guaxinins. Dias e noites, mantínhamos os nossos rabos em casa e combatíamos a propagação do Coronavírus. O sofá era o nosso campo de batalha. A paciência, a melhor arma. Confesso que me apetece rir sozinho ao pensar neste período. Era o nosso destino. Foi assim que nos tornámos heróis. No período do Coronavírus durante o Inverno de 2020”.

Anunciante: Zusammen gegen corona. Título: Corona Winter. Alemanha, novembro 2020.

Encontrei, entretanto, no Twittter, uma versão com legendas em inglês:

O aperto de mão em tempos de pandemia

A publicidade não está imune ao coronavírus. Multiplicam-se os anúncios que aludem à pandemia. Com mais ou menos propósito. Nalguns casos, é preciso algum esforço para descobrir a ligação. Seleccionei dois anúncios em língua portuguesa. O primeiro, brasileiro, Keep your distance, da Universidade do Futebol, assinala como um gesto, a recusa do aperto de mão, pode mudar de sentido, de feio para bom, de ofensa para consciência, consoante o contexto. O segundo, português, It’s Victor Fault, da Lobby, inspira-se na origem, presumivelmente vampírica, do vírus. Dois vampiros conversam sobre as vantagens e as desvantagens do coronavírus. A agência aproveita para fazer auto-promoção.

Marca: Universidade do Futebol. Título: Keep your distance. Agência: Liberdade. Direcção executiva: Fabiana Zat Livardi. Brasil, Março 2020.
Marca: Lobby. Título: It’s Victor Fault. Agência: Lobby. Portugal, Março 2020.

Lição imaterial

A Universidade do Minho suspendeu o ensino presencial por causa do coronavírus. Coloca-se o desafio do ensino à distância. Abusando do Tendências do Imaginário, passo a partilhar, semanalmente, recursos de aprendizagem para os alunos de Sociologia e Semiótica da Arte do Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, a partir de uma ligação na Blackboard da unidade curricular.

Nas últimas aulas, abordámos dinâmicas da arte na longa duração: as modulações do grotesco desde o século XIII e a transformação das imagens de Cristo do séc. IV até ao séc. XVII. É a vez do barroco. Para cada tema, os vídeos e os textos estão acessíveis no blogue Tendências do Imaginário. É mais fácil e mais amigável. É possível o comentário e o diálogo. Basta seleccionar “deixe um comentário” no menu em cima à esquerda. Na “primeira aula”, disponibilizam-se os seguintes recursos:

Dois livros e três artigos (em pdf). O livro de Wolfflin é um clássico é um clássico que compara o barroco e o renascimento. Maffesoli estuda o barroco contemporâneo. Os três artigos, da minha autoria, desenham um esboço da presença atual do barroco, sendo dois acompanhados pelos respetivos vídeos. Acrescem três documentários sobre o barroco, o escultor Bernini e o pintor Caravaggio”.

Albertino Gonçalves. Dobras e Fragmentos. 2007.
A. Gonçalves. O origami mágico. 2008.
Baroque! From St Peter’s to St Paul’s. Part 1. BBC. 2009
Baroque! From St Peter’s to St Paul’s. Part 2. BBC. 2009
Baroque! From St Peter’s to St Paul’s. Part 3. BBC. 2009

Bernini. Simon Schama. BBC 2006.
Caravaggio. Power of Art. Simon Schama. BBC. 2006.

Caracóis

Le secret de l’histoire naturelle contenant les merveilles et choses mémorables du monde. 1401-1500. Bibliothèque Nationale de France.

Os novos monstros “apresentam-se como formas que não se consolidam em qualquer ponto do esquema, que não se estabilizam. São, portanto, formas que não têm propriamente uma forma, andam antes à procura de uma” (Omar Calabrese, A Idade Neobarroca, primeira edição: 1987). Os novos monstros pressentem-se apenas quando já nos habitam. Face ao coronavírus, a sociedade retrai-se como um caracol ameaçado. Cancelei três iniciativas que me traziam entusiasmado: a exposição de fotografias de Álvaro Domingues e Duarte Belo, prevista para Maio; a Escola da Primavera, nos dias 9 e 10 de Maio, em Melgaço; e a visita ao Mosteiro de Tibães, no dia 31 de Março.

Encontrei uma música para embalar esta contenção impotente: o Adagio Molto da Sinfonia “Al Santo Sepolcro” in B Minor RV169, de Antonio Vivaldi. Subtraindo os Allegro aos concertos para flauta de Vivaldi, sobram, mais vagarosos e mais despojados, os Largo. Acrescento o Largo do Concerto nº 5 in F, RV 434 e o Largo do Concerto nº 6 in G, RV 437.

Antonio Vivaldi, Adagio Molto da Sinfonia “Al Santo Sepolcro” in B Minor RV169.
Antonio Vivaldi, Largo do Concerto nº 5 in F, RV 434.
Antonio Vivaldi, Largo do Concerto nº 6 in G, RV 437.