Tag Archive | clubismo

Camaradas da bola. Sociologia sem palavras 19.

Mordillo. Futebol.

Mordillo. Futebol.

“Tal como a conhecemos, a identificação clubística assenta em praticamente tudo menos em bases classistas. A maior parte das equipas denota filiações de índole territorial ou organizacional, tais como cidades (Porto), bairros (Benfica), países (seleções), empresas (o Sochaux, ligado à Peugeot; em tempos, a C.U.F.) ou associações (Académica). Nenhum destes referentes alude a divisões de classes. Pelo contrário, diluem-nas. Agregam os residentes ou os membros das organizações em clubes, independentemente da sua pertença de classe. Nesta linha, o futebol não só se rege por lógicas não classistas, como pode até contribuir para esbater as fronteiras de classe lançando pontes de convívio, comunhão e solidariedade entre os adeptos. Vendo bem, todos torcem e gritam, em uníssono, pelos mesmos emblemas e bandeiras. Um episódio do filme O Leão da Estrela (1947) ilustra a preceito esta capacidade integradora do futebol. O namorado da empregada queixosa dirige-se a casa do patrão para pedir satisfações. Encontram-se na sala de estar e a situação azeda, mas, já em vias de facto, o patrão descobre que o “antagonista” ostenta o emblema do leão na lapela. O que se configurava como um conflito laboral termina numa confraternização leonina, prelúdio de uma cooperação e de uma amizade duradouras. O futebol desempenha aqui um papel político de cimento de identidades para além das divisões de classe. Ergue-se, portanto, como um fator de pacificação social. O futebol contribui, deste modo, para unir grupos e pessoas que outras realidades tendem a separar” (Albertino Gonçalves, O desporto do nosso contentamento, Boletim Cultural de Melgaço, nº1, 2002, pp. 127-161; revisto).

Mais palavras para quê? O melhor é visionar o episódio do filme.

Sociologia sem palavras 19. Futebol e estratificação social. Arthur Duarte. O Leão da Estrela. 1947. Excerto.