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Pneus olímpicos / Futurismo

01. Bridgestone. Road to Rio. 2016.

01. Bridgestone. Road to Rio. 2016.

“Para ser o melhor do mundo, você precisa ser determinado, resistente, pronto para tudo. Você deve ser movido pela performance”.

O anúncio Built to perform, da Bridgestone, patrocinadora dos jogos olímpicos do Rio, parece demasiado moderno e demasiado clássico para não o ser. Os valores são materialistas (Ronald Inglehart, The Silent Revolution, 1977), performativos e reféns do futuro: ambição, determinação, resiliência, projecto, adaptação, dinamismo e rendimento. O episódio da natação no asfalto inscreve um detalhe grotesco numa arquitectura geométrica, em estrada demarcada com atletas alinhados. As raras “formas que voam” (Eugenio d’Ors, Du baroque, 1935) lembram gansos em migração. Reificados, os humanos engrandecem a marca Bridgestone, suporte da “verdadeira essência da alta performance”.

 “Estamos presentes em cada salto, largada e gota de suor. Bridgestone, Patrocinador Olímpico Mundial, tem orgulho em carregar a verdadeira essência da alta performance. Durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, a força de cada atleta estará presente também em todos nós”.

Marca: Bridgestone. Título: Road to Rio 2016. Burn to perform. Agência: Publicis Seattle. USA, Agosto 2016.

À luz da publicidade, a modernidade nunca cedeu a hegemonia. Antes pelo contrário, nos últimos anos, tem-se revigorado. A publicidade ainda é a melhor rosa-dos-ventos da cultura e do imaginário.

Os jogos olímpicos erguem-se como um empreendimento moderno criado no auge da modernidade. Os primeiros jogos olímpicos, da nova era, ocorreram na Grécia em 1896, três anos antes da inauguração da Torre Eiffel e da Exposição Universal de Paris.

12. Giacomo Balla. Sketch for the ballet by Igor Stravinsky Fireworks. 1915.

12. Giacomo Balla. Sketch for the ballet by Igor Stravinsky Fireworks. 1915.

A minha cabeça é um albergue espanhol. As ideias vêm e vão, eruptivas e descontínuas. Errantes e fragmentadas, entre saltos e desvios. Quem me dera uma cabeça cheia de “ideias claras e distintas” (René Descartes)! Mas não. “Cada louco tem uma teima”. A minha é conjugar ciência e beleza. No curso de licenciatura, tive professores que o conseguiram. Por exemplo, Raphael Pividal venceu o prémio Goncourt, o maior prémio literário de língua francesa. Hervé Fischer foi co-fundador da Arte Sociológica e da Cité des Arts et des Nouvelles Technologies de Montréal e foi contemplado, em 1998, com o Prix Léonard en Art, Science et Technologie (MIT-USA).

Que tem o futurismo a ver com o anúncio Built to perform? Proclamado em 1909, dez anos após a inauguração da Torre Eiffel, o futurismo aposta na luz, no movimento, na velocidade, na dinâmica e na energia… “Tudo se move, tudo corre, tudo gira” (Giacomo Balla, Manifesto Técnico da Pintura Futurista, 1910). Dedicado principalmente à pintura e à escultura, o movimento futurista também teve alguma influência na música. Por exemplo, George Antheil, compositor do Ballet Mécanique (1926). O próprio Igor Stravinsky se envolveu com os futuristas, nomeadamente com Giacomo Balla (ver o depoimento de Stravinsky: http://musicologynow.ams-net.org/2014/05/stravinsky-and-futurists.html). O quadro da figura 12, obra de Giacomo Balla, é dedicado à composição Fogo-de-artifício (1908) de Igor Stravinsky.

Acrescento a composição Fogo-de-artifício de Igor Stravinsky, bem como uma pequena galeria com pinturas de Giacomo Balla.

Igor Stravinsky. Fogo-de-artifício. 1908. Animação de Victor Craven.

Galeria com alguns quadros de Giacomo Balla.