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Apanhados

ikea-monkeys-epO que fazem os macacos numa cozinha moderna implantada no meio da floresta? Aproximam-se, tacteiam, experimentam, procuram, brincam… Um novo anúncio da Mother London, desta vez para a IKEA. Para desarmar as críticas à utilização de macacos em anúncios, a IKEA produziu um “behind-the-scenes”. Mostra o modo como foram tratados os animais durante as filmagens e revela o papel desempenhado pela IKEA no que respeita à protecção de macacos. Hoje, criticamos tudo e todos. Paradoxalmente, com tanta crítica, o mundo não resulta mais criticado. A crítica não é acumulativa. Criticar a participação de macacos na publicidade? Não me tinha ocorrido, mas por que não? Já agora, vou criar uma nova associação. Uma associação, não, um movimento. Soa melhor, embora prejudique a candidatura a subsídios de Estado. O movimento de libertação dos apanhados (MLA). Tornaram-se populares os programas de televisão que colocam seres humanos em situações indecorosas e traumáticas? O princípio é simples. Sempre que uma peça audiovisual tratar pior um ser humano do que um anúncio um macaco, processa-se o prevaricador. Protejam os apanhados! Sobretudo, nos próximos meses…

Marca: Ikea. Título: Rediscover the joy of the kitchen. Agência: Mother London. Direcção: Juan Cabral. UK, Julho 2015.

“Behind-the-scenes”. Marca: Ikea. Título: Rediscover the joy of the kitchen. Agência: Mother London. Direcção: Juan Cabral. UK, Julho 2015.

O exibicionismo da galinha dos ovos de ouro

J. J. Caffieri. Rameau. 1760

J. J. Caffieri. Rameau. 1760

Ainda existem galinhas dos ovos de ouro em França, a Gália! Na minha terra, as galinhas dos ovos de ouro extinguiram-se há séculos. Ficaram, em contrapartida, muitos galos. Somos o país dos galos. Os italianos até nos chamam Portogallo. Os galos cantam mas não põem ovos. Também galam as galinhas e papam milho. As galinhas, para além dos ovos, criam os pintainhos e esgaravatam o chão. Têm uma vida rasteira. Um destes dias, a ciência de excelência ainda vai inventar galos “poedeiros” e galinhas voadoras. A composição La Poule (Pièces de Clavecin, 1724), de Jean-Philippe Rameau (1683-1764), ilustra o interminável esgaravatar picotado das galinhas. Em suma, dois anúncios surrealistas e uma música barroca tardia. Intersectam-se.

Marca: La Française de Jeux. Título: Bus Shelter. Agência: BEPC Paris. Direcção: José António Prat. França, Abril 2014.

Marca: La Française de Jeux. Título: Street. Agência: BEPC Paris. Direcção: José António Prat. França, Abril 2014.

Jean-Philippe Rameau. La Poule. Pièces de Clavecin. 1724. Interpretação: Grigory Sokolov.

 

Anomalia

Marcel Duchampl. L.H.O.O.Q. Mona Lisa with moustache. 1919

Marcel Duchampl. L.H.O.O.Q. Mona Lisa with moustache. 1919

Este anúncio admirável da Orange ilustra como os “apanhados” inventivos, simulados ou não, podem desafiar as próprias ciências sociais. Como lidam as pessoas com uma dissonância cognitiva inesperada? Os olhos acreditam no que vêem? Quanta exposição é necessária para se reconhecer um facto anómalo? Para admitir a presença do “impossível”? Como é gerido o conflito entre a razão e a percepção? Quem é anormal? A pintura embuste ou o público estupefacto? Como se desloca esta sensação de anormalidade? Quanto tempo demora a procura de confirmação alheia? O olhar dos outros, a experiência comum, funciona como uma âncora para a travessia cognitiva? Uma dissonância partilhada deixa de ser uma dissonância? A comunicação e o consenso conduzem à verdade? O que justifica o alívio festivo provocado pela “reposição dos factos”? Uma catarse? Uma recomposição? O resgate do “mundo natural”, do conforto da evidência? Pode a reconversão do olhar tornar-se profética? Suspender a ordem? Reconfigurar os dispositivos de acção? E, já agora, até que ponto estes sorrisos e estas piscadelas de Mona Lisa atrevida são estratégicos para a Orange? Por quê a Mona Lisa e não outro quadro qualquer? Este anúncio é da Orange, para a Orange, da Publicis Conseil ou da Publicis Conseil  para a Orange? Aceitam-se respostas múltiplas.

Marca: Orange. Título: Mona Lisa. Agência: Publicis Conseil. Direção: Bo Platt. França, Julho 2013.

Tansomania

LG. The Smartest Baby in the WorldAté que ponto conseguimos ser tansos? Será a nossa boa-fé inesgotável? A onda dos apanhados faz parte desta “tansomania”. Neste anúncio israelita, os futuros pais acreditam em quase tudo, desde que seja garantido e gratificante. Com tanta burla, tanto apanhado e tanta arte oculta, estranho como ainda não foi criada uma licenciatura ou uma pós-graduação em “tansologia”. Quanto às marcas, somam e seguem: associam cada vez mais o lançamento de um novo objecto tecnológico ao nascimento de um ser humano. Pelos vistos, vende.

Marca: LG – Smart TV. Título: The Smartest Baby in the World.Agência: Yehoshua TBWA, Israel, Maio 2013.

Anúncio português com projecção internacional

Este anúncio português da Coca-Cola está a dar a volta ao mundo. Encontra-se em destaque nos melhores sites. Cumpre-nos felicitar os autores e registar a proeza.

Marca: Coca-Cola. Título: Rivalry Wallet. Agência: O Escritório. Direcção: Tiago Carvalho. Criativos: Hugo jerónimo / Tiago Arrighi. Produção: Telma Alfredo. Portugal, Dezembro 2011.

A evidência do inacreditável

Não é um anúncio, mas um apanhado. Erving Goffman gostava deste tipo de situações, ao ponto de as provocar. Revelam a natureza dos actores e da interacção social. Neste apanhado, as pessoas vêem coisas (espíritos) em que não acreditam. Mas, quiçá mais importante, colaboram em situações em que não acreditam.