So fucking special: maravilhas e aberrações

A vida é composta por pequenos rituais. Ao acordar, um comprimido para a tiróide, a medição da tensão e da glicémia e o compasso de um cigarro. Ao trigésimo minuto, o pequeno almoço: café com leite, pão com queijo e uma tangerina. Enquanto a descasco, encanta-me a maravilha que tenho nas mãos. Tanta riqueza que a natureza, recatada, produz!

Livro de Horas, França, séc. XV. Amiens, Biblioteca Municipal, ms. 107)

Resultam, por exemplo, únicos, imensos e fantásticos os sabores, as formas, as texturas e as cores dos frutos. Após cinco comprimidos e outras tantas gotas, novo cigarro, refrescado com água mineral natural gasocarbónica, de preferência de Melgaço.

Aproveito para escutar música: Hoje, uma versão da canção Creep, dos Radiohead. E volto a cismar no excesso, na complexidade e na diversidade do mundo e da vida. Agora, insinuam-se outras criaturas, os monstrinhos, essa outra maravilha que Deus nos deu. Principia deste modo, quase religiosamente, um novo dia.

Beinecke MS 287. Hours, Use of Rome. Final séc. XV. Flandres

Seguem duas versões da canção Creep: o cover pelos Postmodern Jukebox (2015) e, naturalmente, o original, o primeiro single dos Radiohead (1992). Um pequeno apontamento: na letra original, em vez de “So very special“, constava “So fucking special“. Foi censurado à nascença.

Postmodern Jukebox (com Haley Reinhart) – Creep. Emoji Antique. 2015. Ao vivo em 2015
Radiohead – Creep. Single, 1992. Álbum Pablo Honey, 1993.

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One response to “So fucking special: maravilhas e aberrações”

  1. Joao Capela says :

    Fantástico. Abraço

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