Os velhos
“Velhos são os trapos”. Fico perplexo perante tanta sabedoria. Um argumento incontestável. Os velhos não são velhos, porque velhos são os trapos, e os velhos não são trapos. Com os trapos, desmoronam-se séculos de uma língua. Doravante, os velhos não são velhos, são idosos, seniores e pessoas de idade. Em tempos, terceira idade. Os bem-pensantes pensam bem! No meu entendimento, os velhos são velhos. Os meus velhos continuam a ser os meus velhos. Não são os meus idosos, os meus seniores ou as minhas pessoas de idade. A canção de Jacques Brel chama-se Les vieux e a de Daniel Guichard, Mon vieux, apesar de todas as “personnes âgées” residentes na Bélgica e em França. E o romance O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, nunca será O Idoso e o Mar. Idosos, seniores e pessoas de idade são enxertos linguísticos de burocratas e cientistas. Assim gira a nossa identidade: somos seniores nas universidades seniores, idosos nos centros de dia e pessoas de idade num outro sítio qualquer. O que me intriga é sermos velhos cada vez mais tarde e idosos cada vez mais cedo.
Seguem dois anúncios com velhos. Há mais de dez anos que colecciono anúncios publicitários. Acontece revisitar uma ou outra pasta. São anúncios antigos, porventura, seniores. A qualidade gráfica e a resolução da imagem acusam o tempo. Não deixam de ser bons anúncios.
Marca: Butterfinger. Título: Sharing. Agência: JWT Chicago. USA, 2002.
Marca: Fita Biscuits. Título: Fairy. Agência: Lowe, Makati City Phyllipines. Filipinas, 2003.
Pois é Professor, voltou a tema que tanto tem preocupado esta geração. Mas sabedoria, confesso, quanto mais a procuro, menos a encontro. Ainda que me pareça, e reiterando um estado um destes dias do Professor, o espírito que reina é o de idosos ativos.