A um morto nada se recusa

FunalcoitãoEste anúncio é extraordinário. Não tanto por ser promovido por uma agência funerária, mas porque é criativo, ousado, raro. Não releva de um grotesco vulgar. Inspira-se no poema Fim, de Mário de Sá-Carneiro. Original, comporta um tipo de humor que não abunda em Portugal. Uma amiga enviou-me, em boa hora, este anúncio. Na minha infância, um primo, então estudante em medicina, não se cansava de repetir este poema. Cheguei a um ponto da travessia em que a vida segue com excesso de memória, como uma nova Roma onde todos os caminhos vão parar! Em contrapartida, a torneira da vontade, pouco a pouco, tende a encravar. Memória atrai memória: os Trovante musicaram, em cadência lenta, este poema. “Quando eu morrer batam em latas / Rompam aos saltos e aos pinotes / Façam estalar no ar chicotes / Chamem palhaços e acrobatas”. Burros não hão-de faltar!

Marca: Funalcoitão. Tema: A um morto nada se recusa. Agência: BAR. Direcção criativa: Diogo Anahory e José Carlos Bomtempo. Portugal, 2014.

Trovante. Fim. Uma noite só. 1999.

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5 responses to “A um morto nada se recusa”

  1. Rasgos Artes Beatriz Martins says :

    A morte com criatividade, torna-se até, mais interessante!

  2. Beatriz Martins says :

    Já não percebo o meu comentário anterior, mas ok. No momento diria, para além de questões culturais, a morte é na verdade um fenómeno que apela aos instintos compulsivos, ele acontecem de modo não racional.Por sua vez, confesso, no espírito da morte, o título que deu ao artigo, diz tudo – “tudo pelo morto”, apesar de na nossa cultura se chorar, e a religião predominante ainda que pregue o contrário, estimula o choro, na minha morte gostaria muito mais que houvesse alegria. E, sim, o chorar e a forte gargalhada, pólos opostos complementam-se.

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