As Duas Faces: Imagens de Cristo
O vídeo As Duas Faces foi concebido para apoio à disciplina de Sociologia da Cultura. Incide sobre a evolução das imagens de Cristo do século VI ao século XVI. As imagens atêm-se a três grandes temas: Cristo Pantocrator; Cristo Crucificado (Crucifixão e Pietà) e Juízo Final. As dezenas de imagens aqui compiladas não esgotam nenhum desses temas. Na cultura ocidental, não existe fonte de inspiração que suplante a imagem de Cristo, ao nível religioso, estético e simbólico. Apesar desta complexidade, arrisco a chamar a atenção para os seguintes tópicos:
- A imagem de Cristo Pantocrator é aquela que predomina no primeiro milénio. Criador de todas as coisas, omnipotente, Cristo senta-se num trono em pose imperial, com o Livro da Lei na mão esquerda. Situa-se em locais altos de onde tudo vê: nas cúpulas, por cima das portas, na abside. Já nos crucifixos e nas pietás, com Cristo na condição de julgado, as imagens descem das alturas, aproximando-se dos crentes.
- A posição das mãos de Cristo muda significativamente. Como Pantocrator, segura o livro com a mão esquerda e acena uma saudação (grega) com a direita. Já na maioria das representações do Juízo Final, Cristo ostenta, de mãos erguidas, as cinco chagas. Para o bem e para o mal, é um Cristo Ressuscitado.
- O Cristo Pantocrator fita-nos de frente, com um olhar penetrante fixo no infinito. Cristo tudo vê, incluindo os nossos pecados. Nos crucifixos e nas pietás, nenhuma personagem principal nos encara de frente. Todas estão absortas pelo momento.
- Mais do que ser visto, o Cristo Pantocrator vê, com um olhar omnividente que controla e obriga. Perante um crucifixo ou uma pietà, somos nós, pelo contrário, que vemos, com um olhar que se demora. Trata-se de uma inversão na relação com a imagem: esta pede, agora, a ser contemplada.
- O Cristo Pantocrator irradia autoridade e protecção. O Cristo crucificado, ou inerte no colo de Maria, suscita compaixão, promove a partilha de emoções, sensações e sentimentos, com uma profundidade estética e simbólica ímpar.
- O vídeo comprova que a figura do Cristo Pantocrator perdura no tempo, não se apaga. Por outro lado, a figura de Cristo Crucificado, apesar de ter demorado séculos a aparecer, impôs-se durante a Baixa Idade Média. As grandes formas simbólicas são persistentes, coexistem ciclicamente, ora mais discretas, ora mais ostensivas.
- Afirmar que a imagem de Cristo mudou em mil anos é uma banalidade. Mostrar como a imagem de Cristo mudou é obra que não desmerece.
- Uma última nota: a primeira música, um Kontakion, de Romanus Melodus, remonta ao século VI, data das primeiras imagens do vídeo. A segunda, Miserere Mei Deus, de Allegri, data do século XVII. Separam-nas mais de mil anos: uma abre e a outra fecha um percurso.
- O ficheiro pesa 79,6 MB.
4 responses to “As Duas Faces: Imagens de Cristo”
Trackbacks / Pingbacks
- Fevereiro 28, 2016 -
- Dezembro 2, 2021 -
Gostei
António Ramos – de_svo.blogs.sapo.pt
Obrigado Professor.
Excelente vídeo e a música, um espanto.
Victor Marques
Doutorando de Aveiro