Orgia da fraqueza

Distorting Mirror 5

Os donos do poder parecem balões cuja vocação é inchar. Sopram-lhes capacidades próprias, alheias e, até, fictícias. Como os porcos dos Pink Floyd, incham até “não lhes caber uma palha no cú”. Ao longe, perfilam-se como cabinas de um teleférico que não sabe senão subir. Em baixo, os filhos de balões menores mirram junto ao vazio. Perdem capacidades próprias, alheias e, até, fictícias. Acabam por se confinar à própria pele. Este empoleiramento resulta da cegueira de um povo pasmado frente a um espelho deformador. Nesta dinâmica da flatulência colectiva, as pessoas dispõem-se como uma Torre Eiffel e o poder como um cogumelo atómico.

Manuel Casimiro. Sem título. 1987

Manuel Casimiro. Sem título. 1987

Perdoem-me se erro, mas todos os dias tropeço com esta orgia da fraqueza. Sidónio Muralha desafia os “pequenos deuses caseiros” que “brincam aos temporais” (Companheira dos Homens,1950). Quanto a mim, prefiro convocar os balões do São João que sobem com a nossa chama. Desculpem o azedume, mas esta cultura de poder ultrapassa o limiar da dignidade civilizacional. O vermelho e o verde sangram… Com ou sem democracia. Tanta capoeira, tanto pavão, tanta migalha de poder, tanto respigador! Deve ser uma histerese do habitus: as reacções perduram para além das condições que as justificaram. Oito séculos mais 48 anos é muito condicionamento. Nunca mais é Abril!

Distorting Mirror 4

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One response to “Orgia da fraqueza”

  1. beatrizmartins.artes@gmail.com says :

    Orgia, mesmo!Sufocante!

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