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Tortura e prazer

Rat Torture. Bruges Torture Museum.

Selecciono normalmente anúncios de que gosto. Mas nem sempre. A ideia do anúncio Police é original e surpreendente: a polícia espreme o prisioneiro a modos como o detergente El Kef lava a roupa. Esta ideia é bem explorada. Valorativamente, a polícia, ao contrário do prisioneiro, resulta humilhada e depreciada. É frequente a polícia ser ridicularizada nos media. Acontece também o prisioneiro ser enaltecido. Mas este tipo de cenas de inversão costuma fazer parte de um todo. O anúncio Police, ressalvando o final fugaz dedicado à marca, resume-se a uma caricatura burlesca da polícia contrabalançada por uma imagem de resistência do prisioneiro. Em termos de marketing, o brutesco funciona como (pet)isco.

Para aceder ao anúncio, carregar na imagem seguinte ou utilizar o seguinte link: http://www.culturepub.fr/videos/el-kef-police/.

Marca: El Kef. Título: Police. Agência: Shem’s Publicité. Direcção: El Zayat Mohamed. Marrocos, Dezembro 2018.

Há domínios em que o homem se esmera. Supera o próprio diabo. A tortura é um desses domínios. Atente-se, por exemplo, na tortura “medieval” com ratos.


Rat Torture. “In this slow-death method, a victim is restrained to the ground without a possibility of moving. A rat would then be placed on the victim’s stomach enclosed in an iron cage. The cage would then be heated, causing the rat to panic and to dig a hole through the victim’s stomach. The rat would take hours to find its way out, resulting in hours of torture to the victim” (http://worldpackingcanuck.com/bruges-torture-museum/).


Este tipo de tortura, que conjuga sofrimento físico e fobia aos ratos, ainda foi utilizado no século XX por vários regimes políticos, nomeadamente sul-americanos.
A série Game of Thrones inclui um episódio com a tortura do rato.

Violação

 

Gian Lorenzo Bernini. Apolo e Dafne, 1622-1625. Dafne transforma-se em loureiro para escapar ao assédio de Apolo

Gian Lorenzo Bernini. Apolo e Dafne, 1622-1625. Dafne transforma-se em loureiro para escapar ao assédio de Apolo

É pura física: quanto maior o número de pessoas dispostas a erguer o fardo, mais leve será o peso que cada indivíduo tem que carregar (Mariska Hargitay, Fundadora e Presidente da Joyful Heart Foundation).

A vida dos fenómenos pode ser secreta, discreta ou ostensiva. Existem crimes votados ao silêncio, outros, à discrição, outros, ainda, à notoriedade. A pedofilia e a corrupção passam por uma fase ostensiva, a violência doméstica, por um crescendo de atenção, a violação. pelo lado escuro da lua. Desconheço o motivo. Em termos de incidência e de danos, a violação rivaliza com com a maioria dos crimes de primeira página. Nunca investiguei a violação, o crime, a polícia ou a justiça. E a experiência é nula. Vi vários filmes, dos anos setenta, focados no julgamento de mulheres violadas. Coincidiam na devassa da vítima e no excesso do ónus da prova. O mínimo pormenor biográfico, gesto ou adereço era passível de aligeirar a culpa, quando não de justificar o acto. São, porém, filmes de há quarenta anos! Pode-se argumentar que a invisibilidade protege a vítima, bem como o agressor, que também possui os seus direitos. Por outro lado, a mediatização não estimula o crime? Este é um fraco argumento porque se aplica à generalidade dos crimes. Um argumento que justifica tudo, não justifica nada em particular.

A Joyful Heart Foundation alerta, especificamente, para uma negligência recorrente na investigação de casos de violação: parte das amostras recolhidas nas vítimas não são analisadas:

Every 98 seconds, someone is sexually assaulted in the United States. When a person is sexually assaulted, and chooses to undergo the invasive four-to-six hour evidence collection examination at the hospital, they expect the kit will be tested and the evidence used to prosecute the attacker. The public expects the same.

The DNA evidence contained in rape kits is a powerful tool to solve and prevent crime. Rape kit evidence can identify an unknown assailant, link crimes together, and identify serial rapists. Yet hundreds of thousands of times, a decision is made not to test the evidence. This leaves crimes unsolved and violent offenders on the streets.

We should all be shocked by this backlog. There are hundreds of thousands of kits. Untested. For years, many for more than a decade. Behind each of those kits is a person—a sexual assault survivor—waiting for justice (http://www.joyfulheartfoundation.org/blog/shelved-psa).

Anunciante: Joyful Heart Foundation. Título: Shelved. Agência: Invisible Man. Direcção: Ellen Kuras. Estados Unidos, Fevereiro 2018.

Duas ou três ressalvas. O vídeo circunscreve-se aos Estados Unidos. Não consultei fontes fidedignas, nem qualquer outro género de peddy-paper científico.  Enfim, como pode falar de notoriedade quem não se expõe aos media? Nestas matérias, sou ignorante até à ponta dos cabelos, mas, por vício, a palavra está-me na ponta da língua.

 

Humor policial

Police

No anúncio Freeze!, a polícia neerlandesa anuncia, com franco humor, o recrutamento de pessoal. Se fosse no meu país, conhecido pelo seu excelente humor atestado em todos os rankings internacionais do riso, já se tinham demitido dois ou três ministros; e nos jornais, actualizados ao segundo, não haveria espaço para mais notícias. Representaria um relaxamento inadmissível dos valores pátrios que remontam à fundação da nacionalidade. Uma nódoa do poder num manto de cidadania impoluta.

Não exageremos! Nós também sabemos rir. Rir até não poder mais. Mesmo quando é proibido! Lembram-se dos anúncios da água Frize com o Pedro Tochas? Aquela que deus quize. Alguns até foram proibidos.

Marca: New Zealand Police. Título: Freeze!. Agência: Ogilvy & Mather. Direcção: Damian Shatford. Nova Zelândia, Novembro 2017.

Frize. Slogan.

Frize. Tou que nem posso.

Anúncio proibido da Frize.

Distracção fatal

Campanha contra a droga

Campanha contra a droga

A publicidade anda necrófila. Volta e meia, repete o mote: “Se insistir, morre!” A Maria João enviou-me o anúncio suíço “Anastase: The Magic Trick”, da Polícia de Lausanne. Escrever mensagens e ouvir música  num smartphone na rua é fatal. Como ilustração, um jovem é atropelado por um carro. “Abracadabra! Se tu também queres realizar este truque incrível [a morte], basta um telefone móvel, alguns excertos de música, uma aplicação sms e, sobretudo, um pouco de inatenção”. Com humor negro, ficamos elucidados: o abuso do smartphone mata. Como o álcool, a droga, a obesidade, o tabaco.

Campanha contra o alcool

Campanha contra o alcool

Desconversemos.

O uso indevido do smartphone mata. E o resto, não mata, nem morre? Eis uma pitada de absurdo lógico.

A política, o desporto, o amor, o sexo, o sol, os medicamentos e os hospitais, não matam? Até o ridículo.

A OMS, que se presta a estes alertas, bem podia discriminar uma lista exaustiva com tudo quanto mata. Morreríamos mais felizes, para sempre!

Campanha contra a obesidade

Campanha contra a obesidade

Scotland Against Narcotics

Scotland Against Narcotics

O meu rapaz, que detesta absurdos lógicos, corrige: sustentar que o uso indevido do smartphone mata não significa que a ligação seja linear nem geral. Basta meia dúzia de vítimas para se poder afirmar que o “smartphone” mata. Assim, relativizada, a sentença de que o smartphone mata tende a esvaziar-se. O que incha, desincha e passa. O uso do smartphone na rua não mata, pode matar. Matar, sem mais nem menos, é um concentrado votado à propaganda.

Segundo a Polícia de Lausanne, na Suíça, em 2013, “1100 pessoas foram gravemente feridas ou faleceram devido à distracção. Entre os peões, 66% reconhecem que telefonam ou ouvem música durante as suas deslocações a pé”. Algumas informações têm o condão de desinformar: das 1100 pessoas, quantas morreram? Para além do smartphone, que outras fontes de distracção estão contempladas? Os números prestam-se a diversas embalagens.

Anunciante: Police de Lausanne. Título: Anastase: the magic trick.  Direcção: Raphael Sibilla & Jerôme Piguet. Suíça, Maio 2015.

Fuga da rotina

Taco BellA primeira parte do anúncio Routine Republic, da Taco Bell, lembra o filme Equilibrium (2002). Na República, totalitária, da Rotina, a passividade dos cidadãos é garantida pelo consumo de hamburgers. Em Libria a neutralização das emoções é assegurada por uma droga, o Prozium, injectada colectivamente ao som da propaganda do regime. Em ambos os casos, destaca-se o aparato policial.

Na segunda parte, esperava outra modalidade de libertação por parte do casal. No anúncio Odyssey (2002), da Levi’s (aceder http://tendimag.com/2011/09/16/libertacao/), o casal destrói os muros com o próprio corpo. Por seu turno, o muro dos Pink Floyd acaba, apesar de tudo, por se desmoronar. Em Berlim, aconteceu o que  se sabe. No anúncio Routine Republic, a via de libertação resume-se a um pequeno buraco no muro, por onde passa uma pessoa de cada vez. No fim de contas, os dois jovens são desertores (defectors), não são libertadores. A passagem do muro é individual. O mundo permanece dual, maniqueísta. Do lado mau, o totalitarismo, a rotina, o inumano e o hamburger; do lado bom, a democracia, a festa, o humano e o Taco Bell.

Marca: Taco Bell. Título: Routine Republic. Agência: Deutsche. USA, Março 2015.

Elas ficam e partem. O papel das mulheres na emigração

As palavras deviam ser como os cigarros
Fumar uma de cada vez

Passadoras de Homens e Outras Aventureiras é uma reportagem de Ana Cristina Pereira (Texto), Adriano Miranda (Fotografia) e Mariana Correia Pinto (Vídeo) sobre o papel das mulheres na emigração dos anos sessenta, editada no Público de 13 de Abril de 2014. Para aceder carregar na imagem ou no seguinte endereço http://www.publico.pt/portugal/noticia/passadoras-de-homens-e-outras-aventureiras-1631504.

Rio Minho, em Melgaço.Parque Nacional da Peneda-Gerês