Com uma lágrima no canto do olho. Angola 72 e Portugal 75

Bonga. Angola 72. 1972

Ao Mingos

Após o artigo Portugal: Competitividade e custos de contexto das empresas, do trabalho e do país, por demais pesado, denso e extenso, posso voltar a entreter-me a dar música. Não música da moda, em que sou falho, mas da memória, em que sou fértil.

Nos anos 1974 a 1976, Portugal abre-se, sôfrego, ao mundo: às ideias (mormente ao marxismo e ao existencialismo), e às letras (o Círculo dos Leitores batia a todas as portas); aos filmes e à pornografia (os galegos, sob Franco, acudiam ao Estúdio Acil, em Braga, para ver O Último Tanto em Paris (1972), Emmanuelle (1974) e o Império dos Sentidos (1976); folheava-se a Gaiola Aberta e colecionavam-se os posters da Ciné Revue); à música (sobretudo, de intervenção e o rock progressivo); e às gentes, nomeadamente originárias das ex-colónias. Ouviam-se canções angolanas e cabo-verdianas, dançava-se kizomba e merengue, bebia-se Martini e viajava-se com liamba. Eu e o meu amigo A fumávamos apenas tabaco, bastava-nos andar alucinados com duas irmãs naturais de Luanda, a G e a G, que encontrávamos no café Nordeste, junto ao Liceu D. Maria II. Embalava-nos, entre outras, a música de Bonga, que, perseguido pelo governo de Marcelo Caetano, se exilou em 1972 em Roterdão, na Holanda, onde gravou o álbum Angola 72, que inclui estas quatro canções.

Bonga. Mona Ki Ngi Xiça. Angola 72. 1972. Ao vivo com Paulo Flores na Antena 3. 2017.
Bonga. Balumukeno. Angola 72. 1972.
Bonga. Luanda Nbolo. Angola 72. 1972.
Bonga. Paxi Ni Ngongo. Angola 72. 1972.

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One response to “Com uma lágrima no canto do olho. Angola 72 e Portugal 75”

  1. Luís Bastos says :

    Mais a sul, em simultaneo, a mesma bebedeira de vida. Ainda hoje não totalmente curada. Bem bom, que sorte! O Bonga, ao vivo, numa transversal à Almirante Reis, estava incluído nos roteiros dionisíacos. E o Jorge Palma, algures por ali também…

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