De Profundis

Figura 1. Aurora consurgens. Manuscrito iluminado do século XV no Zurich Zentralbibliothek (MS. Rhenoviensis 172).

“A liberdade pertence àqueles que a conquistaram” (André Malraux). “A liberdade é poder escolher as suas cadeias”. Comer aquilo de que se gosta e não gostar do que se come. Os meus colegas são amigos, partilham comigo o trabalho. Dizem que o trabalho é um elemento básico da auto-construção do homem; “é pela mediação do trabalho que a consciência se torna consciência para si” (G.W.F. Hegel, A fenomenologia do espírito, 1807). A frase “o trabalho liberta” marca a entrada do campo de concentração de Auschwitz (Figura 2). Ressalvando, eventualmente, a ergoterapia, o trabalho não redime nem liberta. O trabalho é um castigo. Desde Adão e Eva. O Tendências do Imaginário é uma tábua de salvação. Rumino, logo existo. Formiguem globalmente, mas deixem-me divagar devagarinho! Espero que o Tendências do Imaginário demore a cair na sopa de nabos. As vanitas da arte não enganam: tudo que sobe, afunda-se.

Figura 2. Campo de concentração de Auschwitz.

Os festivais de cinema costumam publicar trailers criativos. Por exemplo, em Portugal, o IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema, o Festival do Clube de Criativos de Portugal ou o Festival Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer. O Newport Beach Film Festival, dos Estados Unidos, é uma referência. Retenho dois anúncios. O primeiro, Go Deeper (2017), é uma vanitas pós-moderna. O naufrágio da grandeza e do prazer. O segundo, Jane Doe (2005), releva de uma drôlerie (gracejo) ao jeito das iluminuras dos manuscritos medievais (marginalia; Figura 1): a cobiça técnica aliada à morte burlesca numa praia deserta com areia espezinhada.

Marca: Newport Beach Film Festival. Título: Go Deeper. Agência: RPA. Direcção: Jed Hathaway. Estados Unidos, Abril 2017.

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