Anda tudo do avesso!

Acabei de dar uma entrevista a uma jornalista sobre a emigração portuguesa. Fiquei com uma sombra no pensamento: nos anos sessenta, os emigrantes partem com o regresso no horizonte; agora, despedem-se! Há famílias que, antes de partir, vendem tudo. Não deixam amarras. Quem fica também se despede: da crença de que a sociedade portuguesa é previsível, digna de confiança, onde se constrói o futuro, sem fazer rir os macacos do jardim zoológico. O que se destruiu não foi o sonho, destruiu-se o sentido de realidade.  Nem no tempo de Salazar e Caetano, os portugueses tiveram tamanha lavagem de princípios e convicções. Já não somos obreiros do futuro, mas fiadores do passado presente. Conheço duas canções, amargas, intituladas “sem eira, nem beira”. Uma circulava entre os emigrantes nos anos oitenta, a outra é esta dos Xutos e Pontapés.

Xutos e Pontapés. Sem eira, nem beira.

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One response to “Anda tudo do avesso!”

  1. Rasgos Artes Beatriz Martins says :

    Sem dúvida, meu estimado Professor.Quem de bom senso ainda ao sair, acredita no voltar? Passivamente, os portugueses abandonam a antiga Pátria, com os cálculos ( mal calculados), com possibilidade de serem de novo revistos com agravamento (por lapso), a pagar nas próximas décadas, a correr bem. Quem quererá pagar a fatura do que não consumiu? Não será só “as avessas”, desgaste e desmistificação dos antigos Heróis.

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