Era uma vez o slow
A escrita é da ordem do desejo. Sensual e dialógica. A escrita pode, inclusivamente, resgatar as cinzas do prazer. A banda grega Aphrodite’s Child obteve um sucesso apreciável nos anos sessenta e setenta. Era composta por três elementos, dois célebres: Vangelis, teclas, e Demis Roussos, voz e baixo. A interpretação ao vivo de End of the World, em 1968, revela a febre do slow, dança de contato contraposta ao desprendido shake. A dança é um fenómeno cultural. Nos anos setenta, predominavam os bailes nas caves, nos ginásios e nos recintos das festas. Eram animados por grupos musicais. Quando iniciava uma música propícia ao slow, as pessoas afluíam à “pista de dança”. Volvida uma década, nos anos oitenta, predominam as discotecas. Quando abre uma série de músicas lentas, as pessoas abandonam a pista para conversar e beber. De ostensiva, a dança de slow tornou-se discreta. Mas não desapareceu. Atente-se na dança, em 2018, entre a atriz e apresentadora Filomena Cautela e o primeiro ministro António Costa. O slow parece mais difícil de dançar do que “antigamente”. A sintonia e o contato dos corpos asseveram-se complicados e intermitentes.