Os anos cinquenta existiram?

O inconveniente de uma pessoa se lembrar é a dificuldade de parar. Lembrar Jamaica, Bob Marley e o activismo social é lembrar Harry Belafonte. É curioso como antes dos anos sessenta existiram os anos cinquenta! Com estrelas tais como Elvis Priesley, Pat Boone, Diamonds, Everly Brothers, Debbie Reynolds, Chuck Berry, Paul Anka, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, Nat King Cole…

A música de Belafonte tem raízes jamaicanas. As canções escolhidas pertencem ao álbum Calypso, publicado em 1956. Foi o primeiro LP a ultrapassar o milhão de vendas nos Estados Unidos. No segundo vídeo, Belafonte interpreta Jamaica Farewell, ao vivo, em 1997, com setenta anos de idade.

Não teria recordado o Harry Belafonte se não tivesse visitado a última gaveta dos cds. As coisas constam entre os melhores guias de viajem ao passado. Devemos estimá-las. A propósito de gavetas e de memória, acode-me uma história.

Nos anos noventa, investiguei, com o Moisés de Lemos Martins e a Helena Pires, a romaria da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo. O resultado foi o livro cuja capa se reproduz. Uma pessoa de idade, ensaísta e poetisa, destacava-se entre as pessoas que mais sabiam sobre as festas. Pela memória e pela documentação. Passava horas, na mesma mesa, na pastelaria da Praça da República. Um dia, convidou-me para me mostrar as suas coisas. Abriu o primeiro gavetão e fiquei desencantado: pouco de novo.

Mostrei-me agradado e agradecido. Sucedem-se os dias. Muitos dias. Volta a convidar-me para ver as suas coisas. E abre o último gavetão! Senti-me como um pioneiro que descobre um filão de ouro. Até bilhetes para a tourada de 1952 tinha guardado. Tive o privilégio de me cruzar com pessoas a quem muito devo e que muito admiro. Em termos de centelha da memória, a última gaveta é a primeira.

Harry Belafonte. Banana Boat Song (Day-O). Calypso. 1956.
Harry Belafonte. Jamaica Farewell. Calypso. 1956. Ao vivo em 1997.

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