Vaca carnívora

Anunciante: Unimed Curitiba. Título: Vaconça. Agência: Bronx. Brasil, Dezembro 2019.

“Desde que comecei a rir de mim mesmo, nunca mais me aborreci” (Georges Bernard Shaw).

Quando embirro com um assunto, sou pior que uma criança. A ameaça dos herbívoros, não prevista na Bíblia, abala os meus padrões tradicionais de entendimento. Não fui educado para percecionar uma vaca como um agente perigoso. Ressalvo as vacas realmente loucas, desenfreadas pelos caminhos a escornear tudo que apareça. Casos raros. Para mim, a vaca é um animal gentil que bafeja o divino. Dócil e belo. No Líbano, quando se pretende lisonjear uma mulher, diz-se que “tem os olhos bonitos como os de uma vaca” (عيون جميلة مثل بقرة: euyun jamilat mithl baqara).

Ao observar o animal na imagem (uma “vaconça”), debato-me com duas dúvidas:

– Trata-se de uma vaca disfarçada de carnívoro para não ser identificada como fonte de Metano e factor de catástrofe planetária? Um caso de camuflagem ou metamorfose bestial?

– Resulta a pele felina de experiências alimentares? Nos cortejos londrinos, era costume alterar a refeição dos cavalos a fim de que os excrementos fossem de cor discreta. Se a dieta afecta os excrementos, também pode mudar a pele. Atente-se nas intoxicações. Têm-se testado várias dietas para vacas. Há dietas que reduzem a emissão bovina de Metano para metade. Desconfio que comendo ração para gato uma vaca adquira uma pele de felino. Afigura-se-me, também, que se dessem de comer plástico às vacas resolver-se-iam dois grandes problemas da humanidade.

Guillermo Mordillo

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