Archive | Julho 2014

Aprender com os estudantes

morte-em-veneza

11É um consolo ver os estudantes a andar à frente do professor. Bom sinal! Sinal de que sabem mais do que aprenderam; sinal, também, de que o professor partilhou mais do que ensinou.
No âmbito da disciplina de Semiótica e Sociologia da Arte, do curso de mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, os alunos foram convidados a fazer um artigo no blogue do curso incidindo sobre a relação entre som e imagem a partir de casos concretos. Recomendo a visita a estes trabalhos:

Tiago Jorge Vieira da Silva – Visconti e Mahler: Morte em Veneza: http://comartecultura.wordpress.com/2014/06/14/visconti-e-mahler-morte-em-veneza/

Ana Carolina Matos – Disparo Fatal: http://comartecultura.wordpress.com/2014/06/14/disparo-final/

Elisabete Barbosa dos Santos Martins – Cinco sentidos – O impacto do sentido auditivo: http://comartecultura.wordpress.com/2014/06/14/cinco-sentidos-o-impacto-do-sentido-auditivo/

Chove na Natalidade

Evolução da taxa de natalidade em Portugal

E a natalidade, senhores? E a natalidade? Não conta? Então… Acham que este Daddy vai contribuir para a sementeira humana? Logo agora que o governo português incentiva a natalidade… Quarenta anos depois de o problema se colocar! Aguardámos que amadurecesse. Agora, está maduro. Portugal teve, em 2013, a taxa bruta de natalidade mais baixa da União Europeia (7,9 ‰). A França adoptou medidas sistemáticas há mais de 30 anos: se o valor da taxa de natalidade não se inverteu, estabilizou, desde os anos noventa, em torno dos 13 ‰. Em 2013, a França (12,3 ‰) tinha, a seguir à Irlanda (15,0 ‰) e à Islândia (13,4 ‰), o terceiro valor mais elevado da União Europeia. Que me recorde, as resoluções francesas eram claras e directas: por exemplo, um prémio ao nascimento e um subsídio mensal durante um período alargado de tempo. A proposta portuguesa aposta num leque variado de medidas: alargamento da licença parental, redução do horário de trabalho, vantagens no IRS, no IMI e no Imposto sobre veículos, ajustamentos na educação e na saúde, compromissos com as autarquias… Oxalá este bombardeamento de partículas funcione! Pelos meus netos. Gostava que um dia nascessem e em Portugal.

Marca: Citroen. Título: Daddy. Agência: Les Gaulois. Direcção: Steve Rogers. França, Junho 2014.

Comer com os olhos

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Star Steak, A Guerra das Panelas, 2001 Odisseia no Fogão… Quem não viu não deve perder este vídeo. Desde Arcimboldo, não tenho conhecimento de tanta arte com alimentos como nos anúncios da Lurpak (ver http://tendimag.com/2013/03/02/a-estetica-da-manteiga/ e http://tendimag.com/2012/01/22/comer-com-os-olhos-os-alimentos-em-arcimboldo/). Uma autêntica passerelle de belezas culinárias! Lurpak, e o mundo fica mais apetitoso. Brincadeira à parte, este anúncio está muito bem feito. Uma estetização requintada da cozinha e dos alimentos.

Marca: Lurpak. Título: Adventure awaits. Agência: Wieden+Kennedy. Direcção: Dougal Wilson. UK, Junho 2014.

A Cama de Shakespeare

Ikea. Beds

Omnipresentes neste anúncio da IKEA, o sonho e o voo não nos largam. Quedas em cascata, de cama em cama suspensas nas nuvens. As imagens parecem sair de uma pintura de René Magritte. Mas o golpe de génio reside na récita de Shakespeare. “Somos feitos da matéria dos sonhos”!

“Os nossos festejos terminaram. Como vos preveni, eram espíritos todos esses atores; dissiparam-se no ar, sim, no ar impalpável. E tal como o grosseiro substrato desta vista, as torres que se elevam para as nuvens, os palácios altivos, as igrejas majestosas, o próprio globo imenso, com tudo o que contém, hão-de sumir-se, como se deu com essa visão ténue, sem deixar vestígio. Somos feitos da matéria dos sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono.” (William Shakespeare (1610-1611), A Tempestade, Próspero, Acto IV, Cena I).

Marca: Ikea. Título: There’s no bed like home. Agência: Mother London. Direcção: Juan Cabral. UK, Julho 2014.

Potência

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Existem muitos tipos de poder. Tantos que nem apetece contar: o hegemónico, o quarto poder, o quinto poder… Vou reter apenas três: a potência, a direcção e a autoridade.
A potência dispensa regras e consentimento, impõe-se, caso necessário, pela força.
A direcção é um poder restrito que se exerce em determinadas condições. Por exemplo, o poder do árbitro num jogo de futebol. Fora das quatro linhas, o poder desaparece.
A autoridade requer legitimidade. O poder só existe enquanto for reconhecido pelos dominados. O líder do balneário é aquele que goza de autoridade junto dos seus colegas.
Lançado na véspera do Brasil-Alemanha, este anúncio alemão é uma boa metáfora da potência.

Marca: Bayern 3 Radiostation. Título: How it ends. Alemanha, Julho 2014.

Silêncio

Cecília Meireles. Pequeno Oratória de Santa Clara. 1955

Gosto de ouvir o silêncio; diz mais calado do que uma multidão a falar. O silêncio não é o vazio, nem a solidão. Tão pouco o mundo afónico. O silêncio é segredo que se guarda. Seguem Il Silenzio (1965), de Nini Rosso, e a Serenata (1955), de Cecília Meireles. Dois silêncios partilhados.

Nini Rosso. Il Silenzio. Scala Reale. 1966

Serenata

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles. Pequeno Oratório de Santa Clara. 1955.

Do You Fantasy?

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Poderá um anúncio publicitário ser arte? Felizmente há bons exemplos. Este é um deles.

Marca: Vespa. Título: Do you Vespa?  Agência: BBH India. Direcção: Lieven Van Baelen. Índia, Julho 2014.

O Corpo e a Imagem

Dtac. The Power of Love

A propósito da integração de lusodescendentes na sociedade portuguesa, aludi num encontro internacional (Universidade Nova de Lisboa, 9 a 12 de Julho) às consequências da perda ou da hibernação dos laços sociais. Não podem as “redes sociais”, o skype e outras ferramentas de comunicação à distância facultar alternativas? Os laços sociais requerem tempo, proximidade, intercorporalidade e materialidade. Ainda não há abraços electrónicos; e os emigrantes portugueses em Paris não se reúnem no Natal à volta de um bacalhau virtual. Ainda há símbolos que exigem materialidade. Um mero contacto ou um simulacro não configuram um laço social. Que o diga este anúncio tailandês. Os estímulos maternos via tablet não conseguem que o bebé pare de chorar. Foi preciso o colo do pai. O corpo em vez do ecrã. Na ponta da tecnologia, o amor.

Marca: Telco Dtac. Título: The Power of Love. Agência: Y&R Thailand. Direcção: Kumphol Whitpiboolrut. Tailândia, Julho 2014.

A nova Mata Hari

Domino's chicken

Este anúncio da Domino’s é curtido. Uma galinha é a vedeta de um video musical de dança techno. Podia ser um galo. E o anúncio, em vez de australiano, podia ser francês ou português. Mas não, nem sequer frango. Uma galinha, nem mais nem menos, a criatura de Deus simbolicamente mais desprestigiada. Para promover o lançamento de uma nova pizza, à base de bacon e frango, a agência The Campaign Palace, de Sydney, desencantou, em boa hora, este one chicken show.

Marca: Domino’s. Título: Domino’s pizza: Techno Chicken. Agência: The Campaign Palace, Sydney. Direcção: Luke Savage. Austrália, 2008.

Descida

SteilagerEste anúncio da Steinlager Pure é um consolo: concentração depurada; combinação invulgar da acção, do ritmo e da imagem; originalidade, ajustamento e envolvimento do acompanhamento sonoro. Apetece ver o fundo da garrafa.

Marca: Steinlager Pure. Título: Born to Defy. Agência: DDB New Zealand. Direcção: Adam Stevens. Nova Zelândia, Julho 2014.