Pós-falocracia
Este anúncio da Durex começa com uma série de símbolos fálicos e acaba com uma série de falos acidentados. A figura do falo mártir emerge, assim, nestes dias de pós-tudo (pós-modernidade, pós-humanidade, pós-género e post mortem). Levou anos, levou séculos e milénios, mas, como sabemos, nada resiste ao pó. Nem sequer o falo que, neste anúncio, aparece como uma vítima que navega entre o sensível e o risível. O anúncio da Durex estranha-se, entranha-se, e volta a estranhar-se. Como é que a Durex, uma espécie de alfaiate do falo, espera vender preservativos com imagens que o torturam? Esperar, espera, e vai conseguir… Nem sequer é preciso consultar o oráculo. São os pós! O pós-racionalismo, o pós-simbolismo, a pós-imagem… Somos pós-parto. Estamos onde estamos, e não sabemos para onde vamos. Uma última perplexidade: com recurso a técnicas sofisticadas de análise de conteúdo, regista-se que, neste anúncio, em 100% dos quatro casos de infortúnio fálico, a causa remete, directa ou indirectamente, para os filhos. Quererá isto sugerir que se, a devida altura, a vítima tivesse usado o preservativo não corria agora o risco de ficar com o dispositivo das sementes traumatizado, porventura eunuco? Não pode ser, pois não? Excesso de perversidade analítica.
Postscriptum: o machismo continua a ser um dos principais obstáculos ao uso de preservativos.
Marca: Durex. Título: Protect Yourself. Agência: Supply and Demand, USA. Direção: Paul Santana. EUA, Maio 2013.