Tag Archive | líqido

Pensamentos fluviais

Se o mundo fosse cão, dava para uivar. Como é liquido, dá para molhar pensamentos.

Description of a dalmation sea monster. Poggio bracciolini, ca 1460.

Description of a dalmation sea monster. Poggio bracciolini, ca 1460.

O rio tanto vai ao mar que um dia há-de voltar.

“A água corre tranquila quando o rio é fundo” (William Shakespeare, Henry VI, Part 2, 1591).

Da Costa Hours, Bruges, c. 1515.

Da Costa Hours, Bruges, c. 1515.

O rio brota da montanha, desce encostas, salta cascatas, abranda nos vales, para, no fim, se salgar no mar. Os sábios e os santos aspiram o percurso inverso: afastar as ondas, trepar vales, cascatas e encostas, e, no topo da carreira, contemplar, do cume seco da montanha, o encanto longínquo das encostas, dos vales e dos reflexos do mar.

“As virtudes perdem-se no interesse como os rios se perdem no mar” (François de La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1ª ed. 1554).

“É preciso sentar-se nestes rios, nem por baixo nem por dentro, mas por cima, e não de pé mas sentado, para ser humilde estando sentado, e em segurança estando por cima” (Blaise Pascal, Pensamentos, edição póstuma 1670).

Iluminura do “Livro de Horas de D. Manuel “, Séc. XV.

Iluminura do “Livro de Horas de D. Manuel “, Séc. XV.