Pensamentos fluviais
Se o mundo fosse cão, dava para uivar. Como é liquido, dá para molhar pensamentos.
O rio tanto vai ao mar que um dia há-de voltar.
“A água corre tranquila quando o rio é fundo” (William Shakespeare, Henry VI, Part 2, 1591).
O rio brota da montanha, desce encostas, salta cascatas, abranda nos vales, para, no fim, se salgar no mar. Os sábios e os santos aspiram o percurso inverso: afastar as ondas, trepar vales, cascatas e encostas, e, no topo da carreira, contemplar, do cume seco da montanha, o encanto longínquo das encostas, dos vales e dos reflexos do mar.
“As virtudes perdem-se no interesse como os rios se perdem no mar” (François de La Rochefoucauld, Reflexões ou sentenças e máximas morais, 1ª ed. 1554).
“É preciso sentar-se nestes rios, nem por baixo nem por dentro, mas por cima, e não de pé mas sentado, para ser humilde estando sentado, e em segurança estando por cima” (Blaise Pascal, Pensamentos, edição póstuma 1670).